Economia
Estrangeiros esbaldaram-se com juro brasileiro em 2016
Realização de lucros baixou fatia deles na dívida pública e causou fenômeno inédito desde 2002


Que os especuladores estrangeiros se lambuzam há tempos nos gordos juros pagos pelo governo aos credores da dívida pública, já é sabido. No ano passado, porém, aconteceu algo especial, a provocar um fenômeno não visto por aqui desde 2002.
Muito gringo resolveu embolsar de vez os deliciosos ganhos com o comércio da dívida brasileira, sem esperar para realizar lucros mais adiante. Diante disso, o Banco Central registrou mais dólares saindo do rentável negócio com títulos públicos do que entrando.
No total, 101 bilhões de dólares deixaram as aplicações em renda fixa e 74 bilhões ingressaram.
De 2015 a 2003, sempre houve mais entrada do que saída de dólares neste tipo de investimento. Fenômeno oposto ocorrera pela última vez em 2002 (1,1 bilhão de saída e 921 milhões de entrada).
Em decorrência de sua realização de lucros, a participação dos estrangeiros na massa de credores da dívida pública encolheu. Essa fatia era de 18% em 2015 e caiu a 14% em 2016.
Foi a primeira queda significativa desde que o Tesouro Nacional passou a publicar periodicamente dados sobre o perfil dos credores da dívida, em 2010. De 2010 para 2011, a participação gringa recuara imperceptivelmente (de 11,6% para 11,3%).
Subsecretario da Dívida Pública, José Franco Moraes diz que, além da realização de lucros nas aplicações com título público, houve uma segunda razão por trás da redução da parcela estrangeira na dívida brasileira. Uma tendência mundial de saída de dólares de países emergentes.
O aumento da participação internacional na dívida foi incentivada pelo Tesouro a partir do governo Lula. Suponha-se que os especuladores globais seriam menos gananciosos do que os nacionais, pois estão acostumados com juros pelo planeta bem menores do que os escorchantes daqui. Uma tentativa, portanto, de diminuir o custo de rolagem da trilionária dívida.
A dívida pública federal terminou o ano passado em 3,1 trilhões de reais, um crescimento de cerca de 400 bilhões em relação a 2015. Deste total, 25% estão nas mãos de entidades de previdência, 23% com bancos, 22% com fundos de investimento e 14% com estrangeiro. O resto se divide entre governos, seguradores, pessoas físicas e outros tipos de pessoas jurídicas.
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