Mundo

Em dois dias, mais de 170 militares venezuelanos desertaram

O Brasil recebeu sete desertores que pediram proteção na cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima

Em dois dias, mais de 170 militares venezuelanos desertaram
Em dois dias, mais de 170 militares venezuelanos desertaram
Bloqueio na fronteira da Venezuela com a Colômbia (Foto: Luis Robayo/AFP)
Apoie Siga-nos no

Ao menos 174 militares venezuelanos deixaram seu país e pediram refúgio no Brasil e na Colômbia desde o sábado 23, quando forças do regime de Nicolás Maduro impediram a entrada de ajuda humanitária pelas fronteiras terrestres. O conflito deixou mortos e feridos.

A maioria dos casos foi registrada na Colômbia, que já recebeu um total de 167 militares das Forças Armadas da Venezuela, segundo a imprensa local. Destes, 157 chegaram ao estado colombiano de Norte de Santander, e outros dez buscaram refúgio em Arauca.

O Brasil,  por sua vez, recebeu sete desertores venezuelanos que pediram proteção na cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima. Entre os militares há seis sargentos e um policial.

Leia também: Crise humanitária na Venezuela acende alerta para surto de doenças

O governo brasileiro informou nesta segunda-feira 25 que três sargentos cruzaram juntos a fronteira com o Brasil na noite de domingo, por meio de rotas clandestinas. Eles receberam auxílio de militares brasileiros e foram levados a um abrigo para refugiados.

Além do trio, um policial municipal venezuelano buscou proteção no Brasil na noite de domingo. Ele chegou ao país por uma trilha clandestina ao lado de sua esposa e três filhos pequenos.

Leia também: "O sistema de saúde na Venezuela está praticamente em colapso"

Segundo a AFP, o policial de 22 anos viajou de carro com a família por 940 quilômetros, da cidade de Carúpano, na costa nordeste, até Santa Elena de Uairén, na fronteira. De lá, seguiram a pé até o Brasil, com os filhos no colo, numa jornada de cinco horas.

“Eu ganhava 18 mil bolívares [de salário] e gastava dez mil em um pacote de fraldas”, contou César Marcano, denunciando a grave situação em seu país, afetado por uma hiperinflação.

Leia também: Maduro ataca Trump e rompe com a Colômbia

Outros três militares já haviam abandonado seus cargos na Venezuela e pedido refúgio no Brasil entre a noite de sábado e a manhã de domingo. Os três são sargentos da Guarda Nacional Bolivariana, um dos quatro ramos das Forças Armadas da Venezuela.

Eles entraram no Brasil desarmados, com as mãos para o alto, e foram atendidos no centro de triagem da Operação Acolhida, dirigida pelas Forças Armadas brasileiras e que é voltada a receber venezuelanos que fogem da crise social e econômica do país vizinho.

Leia também: “Nossa ação é pacífica, mas firme”, diz Juan Guaidó

“Nos quartéis militares não há comida. Não há colchões. Nós, sargentos da Guarda Nacional, estamos dormindo no chão”, relatou Carlos Eduardo Zapata, um dos primeiros desertores a chegar ao Brasil.

Violência

Ao longo dos últimos dias, pelo menos quatro pessoas morreram na região durante protestos a favor da entrada de ajuda humanitária, que foram duramente reprimidos pelo regime de Maduro e acabaram em confrontos. Vários feridos foram levados para hospitais em Roraima.

A fronteira entre o Brasil e a Venezuela segue fechada desde a quinta-feira passada, por decreto do presidente venezuelano, que reforçou os bloqueios no sábado com tropas militares. O mesmo foi feito nas fronteiras com a Colômbia.

A ação frustrou uma operação internacional de entrega de ajuda humanitária liderada pelo líder oposicionista Juan Guaidó com apoio dos Estados Unidos e outros países da região. Para Maduro, a ação, travestida de ajuda, é uma forma de introduzir militares americanos em solo venezuelano e iniciar uma ocupação.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo