Opinião

Os próximos passos de Bebianno

Ele não quer sair “com a pecha de bandido, patrocinador de laranjais ou traidor”. Mas os laranjais espraiam-se

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A demissão do ministro Gustavo Bebianno foi mesmo estranha, muito estranha, justificada pelo porta-voz do governo, general Rêgo Barros, com dribles risíveis para repórteres experientes. Não respondia as perguntas para proteger o compromisso com o presidente da República. Sisudo, fugia da questão a defini-la de “foro íntimo”. Ao militar é difícil mentir, mas às vezes pode.

O ato do governo de lhe oferecer uma “saída honrosa” irritou Bebianno. Primeiro, propuseram uma vaga na Hidrelétrica de Itaipu. Posteriormente, a embaixada na Itália, belo recanto para morar no Palazzo Doria Pamphili, na Piazza Navona, no coração de Roma. Pelo que se sabe, Bebianno é monoglota. Decidiu dizer que não precisava nem de emprego nem de dinheiro.

Vai afastar-se da cena política, da qual só participa há pouco tempo, ou voltará para o escritório de advocacia no centro do Rio? De lá é possível apostar nas orientações do esperto e articulado advogado carioca Sergio Bermudes. Fora dos seus afazeres, ele não é de briga. Se depender de Bermudes, Bebianno será acalmado, embora acene para o conflito. Vai organizar papéis ou atenderá solicitação do PT para explicar ou silenciar sobre o que sabe. E não é pouco. Aí estão as candidaturas laranjas do PSL.

Os áudios trocados com o presidente dão indícios de que ele não baixa o facho para nenhuma autoridade. Deu respostas para Bolsonaro sem arrogância, mas também sem humildade. Foi fritado mesmo assim. Afastou-se só depois de ouvir os encômios do presidente visivelmente irritado. Enalteceu na televisão os méritos de Bebianno, e “seriedade” foi um deles. Em resposta, prometeu que não sairia com a “pecha de bandido, de patrocinador de laranjais ou traidor”. Quase ao mesmo tempo teria chamado Bolsonaro de louco, mas negou a acusação.

“Agora é hora de esfriar a cabeça”, disse Bebianno após espalhar terror no governo

Leia também: Quem é Gustavo Bebianno, a primeira (e perigosa) baixa de Bolsonaro

Os militares entraram em cena para derramar azeite sobre o mar revolto. O conflito, porém, não acabou. Basta esperar que Bebianno exiba documentos para se explicar. E atire em seguida.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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