Mundo
O papa descarta mediar crise na Venezuela
Francisco rejeita o pedido e diz que Maduro não cumpriu promessas anteriores


Um documento vazado pela mídia italiana nesta quarta-feira 13 revela que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu uma mediação do papa Francisco na crise atual que enfrenta o país latino-americano. Em reposta, o sumo pontífice recordou que, no passado, o líder venezuelano não cumpriu os compromissos estabelecidos.
A correspondência, datada de 7 de fevereiro e enviada pelo papa argentino, não foi confirmada nem negada pelo porta-voz interino do Vaticano, Alessandro Gisotti, que assegurou que se trata de “uma carta caráter privado”.
Uma foto com o cabeçalho da correspondência foi publicada pelo jornal italiano Il Corriere della Sera, que traz alguns trechos da mensagem enviada por Francisco. No documento é possível ler, escrito em espanhol, que a carta é dirigida a Sua Excelência o Sr. Nicolás Maduro e não ao presidente – como se faz habitualmente ao se comunicar com um chefe de Estado.
“Infelizmente todas as tentativas (de mediação) foram interrompidas porque o que foi decidido nas reuniões não foi seguido por gestos concretos para alcançar os acordos”, lamenta o papa argentino na carta, segundo o resumo do jornal.
O papa lembra na correspondência que o Vaticano esteve envolvido no passado, sem sucesso, em outras tentativas de mediação e adverte Maduro, com um tom elegante, que, embora sempre tenha apoiado o diálogo, exige que essa conversa tenha como objetivo, “acima tudo, o bem comum”.
No início de fevereiro, o presidente venezuelano disse que escreveu ao sumo pontífice pedindo a sua ajuda e mediação. “Enviei uma carta ao papa Francisco. Disse a ele que estou a serviço da causa de Cristo (…) e nesse espírito peço sua ajuda, em um processo de facilitação e reforço do diálogo”, segundo afirmou. “Peço ao papa para fazer seus melhores esforços, para colocar sua vontade, para nos ajudar no caminho do diálogo, espero receber uma resposta positiva”, disse Maduro.
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O papa não se pronuncia sobre reconhecimento de Guaidó
O artigo do Il Corriere della Sera é assinado pelo jornalista Massimo Franco, próximo do pontífice. Segundo ele, na carta o papa não se pronuncia sobre o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, assunto sobre o qual mantém uma posição “prudente”. “Além da cautela diplomática, a opinião de Francisco e de seus conselheiros sobre Maduro é negativa”, resumiu Franco.
O jornalista recorda que o grande temor do primeiro papa latino-americano é que a crise se degenere em um “derramamento de sangue”, como destacou na carta, e não exclui que “estenda a mão”, embora avisando que “não vai deixar ser usado pelo regime”.
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