Cultura
França debate como homenagear Brigitte Bardot entre seu legado e suas polêmicas
Nos últimos anos de vida, a atriz teve diversas manifestações de apoio a discursos de extrema-direita
Os políticos franceses mostraram-se divididos, nesta segunda-feira 29, sobre como prestar homenagem a Brigitte Bardot, lenda do cinema que despertou polêmica nos últimos anos de vida por seus posicionamentos de extrema-direita.
A estrela de cinema morreu no domingo, aos 91 anos, em sua casa no sul da França. Meios de comunicação de todo o mundo publicaram imagens icônicas da atriz e homenagens após o anúncio.
Bardot ficou famosa em 1956 com o filme E Deus Criou a Mulher, participou de quase 50 filmes e virou símbolo sexual e ícone de estilo. Porém, deixou o cinema em 1973 para se dedicar à defesa dos direitos dos animais.
Seus vínculos com a extrema-direita despertaram polêmica. Foi condenada cinco vezes por discurso de ódio, principalmente contra muçulmanos, mas também contra os habitantes da ilha francesa de Reunião, a quem descreveu como “selvagens”.
Bardot faleceu antes do amanhecer de domingo, com o seu quarto marido, Bernard d’Ormale — antigo assessor da extrema-direita — ao seu lado.
“Sussurrou uma palavra de amor a ele (…) e partiu”, declarou Bruno Jacquelin, representante da sua fundação de proteção aos animais, ao canal de televisão BFM.
‘Cinismo’
O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou a atriz como uma “lenda” do cinema do século XX que “encarnou uma vida de liberdade”.
Figuras da extrema-direita estiveram entre as primeiras a lamentar sua morte. Marine Le Pen, cujo partido Reagrupamento Nacional (RN) lidera as pesquisas de intenção de voto, a chamou de “incrivelmente francesa: livre, indomável, íntegra”.
Bardot apoiou Le Pen nas eleições presidenciais de 2012 e 2017, e a descreveu como uma “Joana d’Arc” moderna, de quem esperava que pudesse “salvar” a França.
No entanto, poucos políticos de esquerda se pronunciaram sobre a morte de Bardot.
“Brigitte Bardot foi uma figura de destaque, um símbolo de liberdade, rebeldia e paixão”, declarou à rádio Europe 1 o deputado do Partido Socialista Philippe Brun, sem mencionar suas controversas opiniões políticas.
A deputada ecologista Sandrine Rousseau foi mais crítica. “Comover-se com o destino dos golfinhos, mas permanecer indiferente à morte de migrantes no Mediterrâneo… que nível de cinismo é esse?”, ironizou na rede social BlueSky.
O New York Times, em uma reportagem intitulada Do sex appeal à extrema-direita, considera que, longe de ser “uma figura de consenso”, Bardot foi uma das primeiras estrelas polêmicas da era moderna.
Alguns, como o deputado conservador Éric Ciotti, pedem uma homenagem nacional, como a organizada em 2017 para a lenda do rock francês Johnny Hallyday, embora, por ora, não pareça haver consenso.
Enterro em Saint-Tropez
Bardot disse que queria ser enterrada em seu jardim com uma simples cruz de madeira, assim como seus animais, e que queria evitar “uma multidão de idiotas” no funeral.
A prefeitura de Saint-Tropez, no entanto, anunciou que ela será sepultada em um cemitério local, em frente ao Mediterrâneo, onde seus pais foram enterrados, mas não revelou a data.
Os parentes de Bardot já estão na cidade para preparar o funeral, segundo uma fonte próxima.
Nascida em 28 de setembro de 1934 em Paris, Bardot cresceu em uma família católica tradicional e abastada. Casou-se quatro vezes e teve um filho, Nicolas-Jacques Charrier, com seu segundo marido, o ator Jacques Charrier.
Após deixar o cinema, Bardot refugiou-se em sua casa em Saint-Tropez para se dedicar à defesa dos direitos dos animais.
“Sou muito orgulhosa do primeiro capítulo da minha vida”, declarou à AFP em 2024, antes de completar 90 anos. “Ganhei fama, e essa fama me permite proteger os animais, a única causa que realmente me importa”.
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