Mundo
Zelensky revela novo plano dos EUA para Ucrânia mas dúvidas persistem
Segundo o presidente ucraniano, a proposta prevê a criação de zonas desmilitarizadas
A Ucrânia conseguiu várias concessões na versão mais recente do plano dos Estados Unidos para tentar acabar com o conflito com a Rússia, revelou o presidente Volodymyr Zelensky, embora ainda persistam muitas dúvidas sobre a questão territorial e se Moscou aceitará os novos termos.
O mandatário ucraniano destacou que o plano atualizado prevê o congelamento da frente de batalha nas linhas atuais e abre a possibilidade de criação de zonas desmilitarizadas.
Zelensky afirmou nesta quarta-feira 24 que o plano de 20 pontos, elaborado em consenso por negociadores americanos e ucranianos, estava sendo revisado por Moscou.
Contudo, é improvável que o Kremlin abandone suas reivindicações territoriais, assim como a exigência de uma retirada total das forças da Ucrânia da região do Donbass.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que Moscou está “definindo sua posição” e se negou a comentar os detalhes do plano.
Zelensky admitiu que o documento atualizado contém alguns pontos que não o agradam. Kiev, no entanto, conseguiu alterar a proposta original americana, de 28 pontos, que atendia muitas exigências russas.
A proposta revelada nesta quarta retira o pedido para que a Ucrânia abandone imediatamente a área que controla na região leste de Donetsk, parte integrante do Donbass.
Também caiu a possibilidade de que o território ocupado por Moscou seja reconhecido como russo.
Além disso, a exigência de que Kiev renuncie formalmente à pretensão de ingressar na Otan foi suprimida da proposta mais recente, embora Washington tenha afirmado que não admitirá adesão da Ucrânia à Aliança.
A Rússia reiterou que as pretensões ucranianas de integrar a Otan são inaceitáveis e apresenta o ponto como um dos motivos que levaram à invasão.
“A Otan decidirá se deseja ou não receber a Ucrânia entre seus membros. E a nossa decisão está tomada. Renunciamos a modificar a Constituição ucraniana para escrever nela que o país não entrará para a Otan”, explicou Zelensky.
“Nas regiões de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, a linha de mobilização das tropas na data deste acordo é a linha de contato reconhecida de fato”, declarou o presidente ucraniano.
“Um grupo de trabalho se reunirá para determinar o reposicionamento necessário das forças para acabar com o conflito, assim como para definir os parâmetros de potenciais zonas econômicas especiais futuras”, acrescentou.
Zelensky revelou os detalhes do plano de 20 pontos em um encontro com jornalistas na terça-feira, em Kiev. As informações foram divulgadas na manhã desta quarta-feira.
As informações divulgadas parecem sugerir que o plano abre caminho para algumas iniciativas que a Ucrânia antes se negava a considerar, como a retirada de suas forças e a criação de zonas desmilitarizadas.
Concessões
Embora não esteja determinado no documento, a proposta abre caminho para que a Ucrânia retire parte de suas forças, por exemplo, de 20% da região de Donetsk sob seu controle, onde seria estabelecida uma zona desmilitarizada.
“Estamos em uma situação na qual os russos querem a nossa retirada da região de Donetsk, enquanto os americanos tentam encontrar uma via”, afirmou Zelensky.
“Buscam uma zona desmilitarizada ou uma zona econômica livre, ou seja, um formato que satisfaça as partes”, acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressiona Moscou e Kiev para que aceitem o fim da guerra, quase quatro anos após o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
No mesmo ano, a Rússia afirmou ter anexado as regiões ucranianas de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia — sem o controle total —, além da península da Crimeia, tomada em 2014.
O presidente russo, Vladimir Putin, não demonstrou a menor disposição para fazer concessões, exigindo recuos das forças ucranianas.
Zelensky admitiu que poderia ser obrigado a ceder em algumas de suas exigências, em particular na questão territorial, para não correr o risco de perder o apoio militar de Washington.
A Ucrânia também sugeriu que Enerhodar, uma cidade controlada pelas forças russas nas imediações da central nuclear de Zaporizhzhia, vire uma zona desmilitarizada.
Qualquer plano que envolva a retirada de tropas ucranianas para criar uma zona desmilitarizada ou uma zona econômica livre deverá ser submetido a um referendo na Ucrânia, explicou Zelensky.
O plano também propõe uma administração conjunta EUA–Rússia–Ucrânia da usina de Zaporizhzhia, mas Zelensky afirmou que não deseja a supervisão russa da instalação.
Ele também anunciou que a Ucrânia organizará eleições presidenciais após a assinatura do acordo, uma exigência de Putin e Trump.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também
Zelensky e enviados dos EUA continuam as negociações em Berlim sobre o fim do conflito na Ucrânia
Por AFP
Rússia diz que negociações com os EUA sobre Ucrânia têm ‘avanços lentos’
Por AFP



