Política
Bolsonaristas se engajam em campanha de boicote às sandálias Havaianas
Uma frase dita pela atriz Fernanda Torres em uma publicidade despertou a fúria da extrema-direita às vésperas do Natal
“Eu não quero que você comece o ano com o pé direito”. A frase, dita pela atriz Fernanda Torres em uma publicidade, foi a senha para a extrema-direita brasileira eleger um novo alvo neste fim de ano: as sandálias Havaianas.
Na peça, Fernanda diz que “não tem nada contra a sorte”, mas sugere que os consumidores comecem o ano “com os dois pés”. A sugestão de ver o pé direito dividindo protagonismo com o esquerdo atingiu mentes e corações às portas do Natal e deu origem a uma campanha de boicote.
Alguns dos maiores expoentes do bolsonarismo já manifestaram apoio à iniciativa que começou nas redes sociais no fim de semana. O agora ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o empresário Luciano Hang estão entre eles.
Dos Estados Unidos, Eduardo fez questão de gravar um vídeo jogando um par dos chinelos no lixo. Ele ainda lamentou o que entendeu ser a perda de um “símbolo nacional” – os chinelos ganharam o mundo nas últimas décadas e, atualmente, são vendidos em lojas próprias e grandes redes de todos os continentes.
Nikolas, por sua vez, fez um jogo de palavras com um antigo slogan da marca. Em vez de “Havaianas, todo mundo usa”, ele escreveu: “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”.
Luciano Hang foi além, e postou nas redes sociais uma foto usando sandálias da marca Ipanema, uma das concorrentes das Havaianas. “Nesse verão eu só vou usar Ipanema, e você?”, escreveu. Até o início da tarde desta segunda-feira 22, porém, as lojas Havan seguiam oferecendo os produtos Havaianas, ao menos em seu site oficial.
Algumas das postagens receberam respostas de parlamentares de esquerda. O senador Cleitinho (Republicanos-MG) foi um dos que incentivaram o boicote. A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) lembrou que a fábrica emprega milhares de pessoas com sua fábrica em Montes Claros, norte de Minas. “Com esse ataque burro, quem mais pode perder não é a marca, é o trabalhador mineiro”, escreveu Duda.
Já a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) preferiu abusar da ironia. “Como assim os bolsonaristas tão cancelando até as Havaianas? Será que não serve direito nos cascos deles? Porque quem não gosta de vestir uma Havaianas, ficar bem livre e solta, sem nada preso ou apitando no tornozelo e ir pra onde quiser sem pedir autorização pra ninguém?”, postou em suas redes.
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