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Agricultores mantêm protestos na França mesmo após adiamento do acordo UE-Mercosul

Manifestantes também bloqueiam estradas contra o abate sistemático de rebanhos contaminados por um tipo de dermatose

Agricultores mantêm protestos na França mesmo após adiamento do acordo UE-Mercosul
Agricultores mantêm protestos na França mesmo após adiamento do acordo UE-Mercosul
Agricultores franceses protestam contra o acordo da União Europeia com o Mercosul. Foto: JEAN-FRANCOIS MONIER / AFP
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No dia seguinte às novas declarações do primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, e apesar dos apelos do governo por uma “trégua de Natal”, bloqueios de agricultores franceses foram mantidos neste sábado 20 em rodovias e autoestradas do sudoeste, no primeiro dia das férias escolares. Os protestos são contra o abate sistemático de rebanhos contaminados por um tipo de dermatose, mas as revoltas dos agricultores também se intensificaram por conta da tensão gerada em torno do acordo de livre comércio UE-Mercosul, que teve sua assinatura adiada.

“Enquanto não houver mudança na política sanitária, enquanto o governo insistir no abate sistemático e total quando houver um caso de dermatose nodular contagiosa (DNC) em um rebanho, continuaremos mobilizados”, declarou à AFP Sara Melki, coporta-voz da Confederação Camponesa de Aveyron.

O sindicato agrícola estabeleceu, sem confrontos com a polícia, um segundo ponto de bloqueio no sudoeste do país, apesar de uma ordem da prefeitura proibindo manifestações, emitida na sexta-feira 19.

Recebidas na sexta-feira pelo primeiro-ministro, a Coordenação Rural (CR) e a Confederação Camponesa, que criticam a gestão governamental da epidemia de DNC, não recomendaram a suspensão dos bloqueios neste período de festas de fim de ano. As seções departamentais são livres para continuar o movimento, confirmou na manhã de sábado, na France Inter, o secretário-geral da CR, François Walraet, embora tenha feito um apelo para “fazer uma pausa” durante o Natal.

Agricultores consideram as medidas do governo insuficientes

Sindicatos do setor pediram na sexta-feira uma “trégua”, condicionada a uma “carta” com “todas as intenções” do primeiro-ministro. No documento, Sébastien Lecornu voltou a defender a estratégia governamental de combate à dermatose, que consiste principalmente em abater todo o rebanho afetado pela doença, e aumentou o valor do fundo de emergência anunciado no início da semana de 10 milhões de euros para 11 milhões de euros.

“As respostas esperadas, principalmente sobre as indenizações dos animais isolados, a segurança econômica das propriedades ou ainda o apoio aos produtores de cereais, não foram atendidas. Não é suficiente”, reagiram os movimentos sindicalistas. Eles apoiam a estratégia sanitária atual, mas pediram ao governo “garantias” sobre a taxa de carbono europeia aplicada aos fertilizantes.

Cúpula do Mercosul no Brasil

Enquanto as tensões aumentam na França, os representantes do Mercosul se reúnem em Foz do Iguaçu para a cúpula do bloco. A assinatura do aguardado acordo de livre comércio com a União Europeia, que estava prevista para este sábado, foi adiada para janeiro.

A reunião marca o encerramento da presidência rotativa brasileira do bloco. O presidente Lula sai do comando deixando pendente o acordo de livre comércio com a União Europeia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a maioria dos países europeus contavam selar o compromisso no Brasil. No entanto, devido aos protestos de agricultores europeus, principalmente na França e na Itália, o acordo precisou ser adiado.

Apesar disso, von der Leyen expressou confiança de que a assinatura seja possível em 2026. Uma fonte da Comissão Europeia indicaram que a nova data prevista é 12 de janeiro, no Paraguai.

Negociado por mais de 25 anos, o acordo UE-Mercosul visa criar a maior área de livre comércio do mundo. Ele permitiria que os europeus exportassem mais veículos, máquinas, vinhos e bebidas alcoólicas para a América do Sul. Por outro lado, isso facilitaria a entrada de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos na Europa.

RFI com AFP

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