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Com apoio limitado à Ucrânia, Trump sanciona lei de defesa antes de negociações de paz nos EUA

A nova lei também inclui um aumento salarial de quase 4% para militares e restrições a investimentos americanos na China

Com apoio limitado à Ucrânia, Trump sanciona lei de defesa antes de negociações de paz nos EUA
Com apoio limitado à Ucrânia, Trump sanciona lei de defesa antes de negociações de paz nos EUA
Donald Trump, presidente dos EUA, em pronunciamento à nação. Foto: Doug MILLS / POOL / AFP
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou nesta quinta-feira 18 a Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), que define o orçamento do Pentágono para o próximo ano. O texto autoriza um gasto recorde de 901 bilhões de dólares (o equivalente a 4,5 trilhões de reais), foi aprovado com ampla maioria no Congresso e estabelece prioridades estratégicas da política de defesa americana em um momento de alta tensão internacional.

A lei inclui um aumento salarial de quase 4% para militares, restrições a investimentos americanos na China e a liberação de recursos para a Ucrânia, às vésperas de uma nova rodada de negociações de paz que deve ocorrer em solo americano neste fim de semana.

Apesar do discurso de Donald Trump de buscar um fim negociado para a guerra com a Rússia, o Congresso decidiu manter algum nível de apoio a Kiev. O texto reserva 400 milhões de dólares (ou 2 bilhões de reais) para 2026 e outros 400 milhões de dólares para 2027 dentro da chamada Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia, um programa que financia a produção de armas por empresas americanas destinadas às Forças Armadas ucranianas.

Trata-se de um gesto político relevante para o governo de Volodymyr Zelensky, mas com impacto militar limitado. A guerra consome bilhões de dólares por ano, e o valor aprovado está longe de atender às necessidades do país. Diante disso, a Ucrânia segue pressionando aliados europeus por novas garantias financeiras.

UE aprova € 90 bilhões para Ucrânia

Horas antes da sanção do orçamento de defesa nos Estados Unidos, líderes da União Europeia viraram a noite negociando em Bruxelas um grande pacote de apoio à Ucrânia.

Os líderes europeus alcançaram um acordo para desbloquear 90 bilhões de euros (583 bilhões de reais) para ajudar a Ucrânia nos próximos dois anos, segundo o presidente do Conselho Europeu, António Costa. A soma será fornecida na forma de um empréstimo sem juros para Kiev, proveniente do orçamento do bloco.

A opção preferida pela Alemanha e a Comissão Europeia, a de recorrer aos ativos russos congelados na Europa, foi descartada após quatro horas de debates entre os dirigentes, a portas fechadas e sem telefones.

Venezuela e América Latina

Além da Ucrânia, a nova lei de defesa traz sinais claros sobre a política externa de Trump na América Latina, especialmente em relação à Venezuela. O texto inclui uma cláusula que pressiona o governo a prestar contas ao Congresso sobre as operações militares dos Estados Unidos no Caribe contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas.

Parte do orçamento de viagens do secretário de Defesa, Pete Hegseth, fica bloqueada até que ele apresente aos parlamentares imagens completas e as ordens oficiais que autorizaram essas operações, que vêm gerando desconforto entre republicanos e democratas.

Desde setembro, forças americanas atacaram 28 embarcações consideradas ligadas ao narcotráfico, com pelo menos 104 mortos. Trump afirma que os Estados Unidos estão em “conflito armado” com cartéis de drogas e já declarou, mais de uma vez, que ataques em terra podem ser o próximo passo, associando diretamente o governo de Nicolás Maduro a essas organizações.

No Congresso, cresce a pressão por explicações, especialmente após a revelação de que dois sobreviventes de um ataque naval foram mortos em uma ofensiva posterior. Ainda assim, a maioria republicana tem bloqueado tentativas democratas de exigir autorização formal do Legislativo para novas operações militares na região.

Questionado por uma jornalista se pensava em solicitar a aprovação do Congresso para realizar ataques em terra na Venezuela, Trump disse nesta quinta-feira que não se sente obrigado a informar o Congresso, por temer algum tipo de vazamento por parte dos legisladores.

“Eu não me importaria, mas […] não preciso dizer a eles. Está comprovado, mas não me incomodaria em absoluto”, afirmou. “Apenas espero que não vazem [informações]. Vocês sabem, as pessoas vazam. São políticos, e vazam como uma peneira”, acrescentou o republicano.

No caso da Venezuela, a estratégia de Trump tem sido descrita por fontes da própria administração como uma política de pressão gradual, como o bloqueio de navios petroleiros na costa do país, em vez de uma intervenção militar direta. O objetivo final, segundo essas fontes, segue sendo o mesmo: isolar e enfraquecer Nicolás Maduro até provocar sua queda, sem lançar, por ora, uma grande operação em território venezuelano.

Tropas na Europa e OTAN

A lei também impõe limites claros a qualquer retirada de tropas americanas da Europa. O Pentágono fica proibido de reduzir o número de militares no continente para menos de 76 mil por mais de 45 dias, sem antes consultar aliados da OTAN e justificar que a medida atende aos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos.

O texto ainda impede que os Estados Unidos abram mão do comando militar da aliança, um recado direto para conter eventuais tentativas de Trump de reduzir o envolvimento americano na OTAN.

Negociações de paz

Enquanto isso, as negociações para tentar encerrar a guerra entram em uma fase decisiva. Negociadores da Ucrânia já estão a caminho dos Estados Unidos para reuniões com a equipe americana, enquanto uma comitiva russa também deve se encontrar com representantes de Washington em Miami neste fim de semana.

Zelensky admite que ainda não há uma proposta de paz alinhada e voltou a pedir mais apoio internacional, diante da pressão crescente do governo Trump para que a Ucrânia faça concessões. As conversas seguem abertas, mas, por enquanto, sem sinais claros de avanço imediato.

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