CartaCapital
Rio/ Bons companheiros
Plenário da Alerj revoga a prisão do deputado Rodrigo Bacellar
Suspeito de vazar informações sigilosas de uma operação policial contra um colega acusado de envolvimento com o Comando Vermelho, Rodrigo Bacellar não passou nem uma semana no cárcere. Na segunda-feira 8, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro decidiu libertar o deputado do União Brasil, que presidia a Casa até ser detido pela Polícia Federal na quarta-feira 3. Bacellar não pode queixar-se da lealdade dos aliados bolsonaristas no estado. Dos 65 parlamentares presentes à votação, 42 foram favoráveis à soltura e apenas 21 defenderam a manutenção da prisão.
Bacellar é acusado de repassar informações reservadas da Operação Zargun, que levou à prisão do então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias. O presidente da Alerj teria telefonado para o investigado na véspera da ação, permitindo que ele apagasse informações do celular e se desfizesse de objetos em casa. Preso em setembro, TH Joias é acusado de negociar drogas, armas e drones para o CV. À época filiado ao MDB, foi expulso da sigla e afastado do mandato.
Após a decisão do Legislativo fluminense, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liberdade provisória a Bacellar, mas determinou seu afastamento da presidência da Alerj, o uso de tornozeleira eletrônica e o recolhimento domiciliar noturno, das 19h às 6h. O deputado também está proibido de se comunicar com outros investigados, perdeu o direito de portar armas e deve entregar seus passaportes.
No Olimpo da desigualdade
Apesar da expressiva redução da pobreza, que atingiu os menores níveis desde o início da série histórica do IBGE, em 2012, o Brasil segue entre os países mais desiguais do mundo. Os 10% mais ricos concentram 59,1% da renda nacional, enquanto a metade mais pobre fica com apenas 9,3%. Com isso, o País ocupa o quinto lugar entre 216 nações no novo Relatório da Desigualdade Global, publicado pelo World Inequality Lab, liderado pelo economista francês Thomas Piketty. Só África do Sul, Colômbia, México e Chile apresentam cenários piores. “A concentração da riqueza (valor dos ativos individuais) é ainda mais acentuada: os 10% mais ricos detêm 70% da riqueza total e o 1% mais rico, mais de um terço”, aponta o relatório. Neste quesito, ocupamos a vergonhosa sexta colocação no ranking mundial.
Paraná/ Superfederação fraturada
PP veta candidatura de Moro e aprofunda racha com o União Brasil
O ex-juiz pode ficar sem legenda para disputar o governo do estado – Imagem: Alessandro Dantas/PT na Câmara
Por unanimidade, o diretório do PP no Paraná decidiu vetar uma possível candidatura do senador Sergio Moro, do União Brasil, à sucessão do governador Ratinho Jr. em 2026. A definição, tomada em reunião na segunda-feira 8, aprofunda o racha entre os dois partidos da recém-criada federação União Progressista. Moro também enfrenta resistência dentro da própria legenda, onde parte dos correligionários defende manter a aliança com Ratinho Jr. e apoiar o nome indicado por ele – o governador trabalha para lançar seu secretário de Cidades Guto Silva. No PP, cogita-se ainda uma candidatura da ex-governadora Cida Borghetti.
Ao site de CartaCapital, o deputado federal Ricardo Barros, presidente do diretório estadual do PP, afirmou que Moro terá de deixar a federação se insistir na disputa. “Ele está no meio do mandato como senador, vai concorrer de qualquer maneira e procurará um partido que lhe garanta a legenda. Aqui ele não terá condição de registrar sua candidatura.” Nas redes sociais, o presidente nacional do União Brasil, Antonio de Rueda, reafirmou a intenção de lançar o ex-juiz ao Palácio Iguaçu: “A imposição de vetos arbitrários é inaceitável”.
Chile/ O pinochetismo redivivo
O ultraliberal José Kast é franco favorito no segundo turno das eleições
Kast une a direita.Jara sofre com a impopularidade do governo – Imagem: Rodrigo Arangua/AFP e Redes Sociais
A lei chilena proíbe a divulgação de pesquisas de intenção de votos uma semana antes das eleições, mas a troca de informações entre as campanhas e os analistas políticos indica que o pinochetista José Antonio Kast tende a vencer o segundo turno, no domingo 14, com uma vantagem de 12 a 16 pontos porcentuais em relação à comunista Jeanette Jara, ex-ministra do Trabalho e candidata governista. À retomada do projeto ultraliberal implementado durante a ditadura de Augusto Pinochet, Kast adiciona bandeiras da extrema-direita contemporânea. Promete expulsar imigrantes ilegais, a quem atribuiu grande parte da responsabilidade pelo aumento da violência, e controlar as fronteiras, ao mesmo tempo que propõe uma política linha-dura na área de segurança. Como todos os clones latino-americanos, exalta as medidas de Nayib Bukele, o aspirante a ditador de El Salvador que atropela os direitos humanos em nome do combate à criminalidade. O que se avizinha, salvo acontecimentos inesperados de última hora, é a mudança completa no humor dos chilenos depois dos massivos protestos de 2019 e 2020. Àquela altura, os eleitores pareciam cansados de um sistema que pouco havia se transformado desde o fim do regime autoritário. E que não garantia educação pública, saúde e previdência dignas. A esperança durou pouco. Fruto das revoltas, a nova Constituição, desenhada por uma Assembleia de maioria progressista, foi rejeitada pela maioria em 2023. A frustrante presidência do jovem Gabriel Boric, cujo ímpeto em “modernizar” as bandeiras da esquerda produziu discursos e posições ambíguas, jogou outra pá de cal na esperança em novos tempos. Coube a Jara a inglória tarefa de defender um governo impopular.
Apetite chinês
Como tem sido hábito nos últimos 30 anos, os analistas financeiros ocidentais falharam miseravelmente em suas projeções para a China. Quem esperava uma queda expressiva nas exportações chinesas por conta das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu com os burros n’água. Pela primeira vez, as vendas externas do país ultrapassaram a marca de 1 trilhão de dólares no acumulado de janeiro a novembro. A redução do envio de produtos ao mercado norte-americano foi compensada pelo aumento dos negócios com outros países. Só no mês passado, as exportações cresceram 5,9%, acima das previsões dos especialistas.
Publicado na edição n° 1392 de CartaCapital, em 17 de dezembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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