Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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A gestão em campo

O Timão tem condições estruturais e financeiras semelhantes às do rubro-negro, mas patina e não consegue deslanchar

A gestão em campo
A gestão em campo
Os jogadores Vitor Roque, do Palmeiras, e Arrascaeta, do Flamengo. Fotos: Juan Mabromata/AFP e Pablo Porciuncula/AFP
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As recentes decisões do futebol brasileiro – a final da Copa Libertadores e a reta final do Campeonato Brasileiro –, vencidas pelo Flamengo contra o Palmeiras, trouxeram à tona situações cruciais sobre a gestão e o planejamento dos clubes.

Ambas as equipes venceram e perderam na mesma semana. As reações dos clubes foram, porém, totalmente opostas e reveladoras.

O Palmeiras, por exemplo, empurrado não apenas pela derrota nas finais, iniciou uma profunda reestruturação em seu planejamento.

As mudanças anunciadas ajudam a entender a queda de rendimento na reta final: o time deu sinais claros de cansaço, indicando a urgente necessidade de renovação no elenco.

Já o Flamengo, mesmo após a dupla conquista e ainda com o Mundial Interclubes à vista, anunciou medidas de reforço.

O time usou os valores obtidos com as vitórias e o aumento dos patrocínios como “time de massa” para qualificar ainda mais o grupo.

Com o título do Brasileirão garantido com antecedência, a viagem para o Catar foi antecipada, e o clube ainda deu rodagem ao Sub-20, que o representou na rodada final do campeonato – outro ganho estratégico.

No meio desse cenário de altos e baixos, quem se arrasta lamentavelmente é o Corinthians. O Timão tem condições estruturais e financeiras semelhantes às do rubro-negro, mas vem patinando e não consegue deslanchar.

A comparação com o que ocorre no futebol europeu, hoje o mais valorizado do mundo, também nos oferece pistas.

Por lá, os clubes chegam à metade da temporada. Por aqui, encerramos o nosso calendário. Ambos são ingratos, diga-se de passagem.

Na Europa, o clube que sempre elogiamos, o Real Madrid, acusou desequilíbrio em sua organização.

Após um rendimento sofrível e crises entre os jogadores e o técnico Xabi Alonso, o time anunciou mudanças radicais no elenco no meio da temporada desportiva.

Além de perder pontos preciosos, foi derrotado nesta última semana, em casa, por 2 a 0, para o modesto Celta de Vigo.

Em termos de comparação, é impossível não citar as diferenças de organização entre o clube madrileno e o Santos – camisas parecidas, com uma história igualmente grandiosa.

O Santos fez uma campanha muito fraca no Brasil, correndo risco de cair. Muita trapalhada da “cartolagem”.

O Peixe escapou do rebaixamento no apagar das luzes, e não há mais como esconder a necessidade de atualizar o seu rumo. Se, um dia, o time de Pelé foi capaz de ser bicampeão mundial, é porque tem de onde tirar.

E a verdade é que a vinda de Neymar no desfecho do campeonato acabou sendo uma jogada com um “final feliz” para todo mundo. O clube livrou-se da queda com a participação decisiva do craque. Torço por Neymar, apesar de entender tanta “bronca” em torno dele.

Neymar dá sinais de amadurecimento e pode abrir bons horizontes. Para o Santos, eles já se abriram. Para a Seleção, o objetivo maior do acerto com o Peixe pode ser fundamental.

O balanço da carreira de Neymar é, no fim, espetacular, embora essa imagem não seja devidamente cultivada.

Ele tem inúmeras conquistas que não aparecem com o devido destaque em sua biografia.

Só não compreendo o “masoquismo” de tantas lesões – corajoso, sim, mas desnecessário.

Entre algumas declarações amadurecidas sobre o futuro, o craque explicou com a maior tranquilidade: “Vou descansar uma semana, depois pensar e decidir. Vamos ver o que é melhor pra todo mundo”.

Sem dúvida, ele mira a Copa do Mundo.

No campo dos rebaixados, é “chocante” a queda simultânea de Ceará e Fortaleza. Um estado com aquela potência sem nenhum time na Série A.

O que pode ter acontecido ao Fortaleza, que mirava voos altos no início do campeonato e acabou assim? Uma lástima, assim como a reação tardia do Ceará.

Outro que escapou foi o Vitória da Bahia, treinado por Jair Ventura, que merece melhores oportunidades.

Resta-nos ver a reação do Internacional, socorrido pelo extraordinário “bombeiro” Abel Braga.

Além de contribuir mais uma vez com sua enorme experiência, ele ajudou a espantar a Série B e deu a sentença: “Ameaça de rebaixamento nunca mais!” Foi um alerta para a direção colorada.

É impressionante como alguns clubes gigantes parecem fazer força para cair – e caem. É muita trapalhada da “cartolagem”.

Enquanto isso, a Copa do Brasil resta como uma última esperança para salvar o ano de Cruzeiro, Vasco, ­Fluminense

e, especialmente, da Fiel corintiana. •

Publicado na edição n° 1392 de CartaCapital, em 17 de dezembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A gestão em campo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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