Esporte
Com show e presença de Trump, sorteio da Copa 2026 vai definir grupos em Washington
O evento não será apenas sobre futebol, mas também deve evidenciar o tom político da competição sediada nos EUA
Esta sexta-feira 5 marca o início oficial da contagem regressiva para a Copa do Mundo da FIFA de 2026. O pontapé simbólico será dado na capital norte-americana, Washington D.C., em um evento com clima de espetáculo, que mistura esporte e entretenimento, mas que, no fundo, traz um tom político. A cerimônia de sorteio dos grupos acontece no prestigiado John F. Kennedy Center for the Performing Arts – com várias estrelas – e representa o primeiro grande momento público do torneio, que pela primeira vez reunirá 48 seleções. Mas não é ‘só’ isso, haverá também um prêmio pela paz, uma espécie de Prêmio Nobel dado pela Federação Internacional de Futebol.
Esse sorteio vai definir quem joga contra quem na fase inicial e dá forma ao caminho de cada seleção rumo à taça. E o evento deste ano vai ser o maior da história, já que reunirá 48 seleções, divididas em 12 grupos de quatro equipes. Ao todo, serão 104 partidas; um aumento de 40 jogos em relação à Copa do Catar, realizada em 2022.
O procedimento seguirá a lógica oficial: as seleções já classificadas (e os países-sede) serão divididas em potes, conforme ranking e regulamentos da FIFA. Depois, os nomes serão sorteados para definir quem vai a cada grupo. Apenas no sábado, a FIFA divulgará o calendário completo de sedes e horários dos 104 jogos.
O sorteio não será um evento protocolar apenas: será uma superprodução de entretenimento, apostando em celebridades que misturam futebol, cultura pop e show business. Rio Ferdinand (ex-jogador inglês e ícone do futebol mundial) e a comentarista Samantha Johnson comandam a cerimônia.
Já a supermodelo Heidi Klum e o comediante Kevin Hart serão os anfitriões do palco onde se apresentarão Andrea Bocelli, Robbie Williams e Village People, autores do hino “Y.M.C.A.” que Trump adotou em sua campanha eleitoral. Também estarão presentes lendas de outros esportes como Tom Brady (futebol americano), Shaquille O’Neal (basquete), Wayne Gretzky (hóquei no gelo) e Aaron Judge (beisebol).
Futebol e paz
Mas, desta vez, o sorteio não será apenas sobre futebol. Pela primeira vez, a FIFA vai apresentar um novo prêmio durante a cerimônia: o “FIFA Peace Prize – Football Unites the World”. Esse é um prêmio criado pela FIFA para homenagear pessoas que atuam de forma extraordinária em prol da paz, que, segundo a Federação, promovem união, diálogo e harmonia pelo mundo.
O primeiro vencedor será anunciado pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, durante o sorteio em Washington. Não foram divulgados ainda quem vota, critérios, processo de indicação.
O que está sendo muito comentado nos Estados Unidos é a relação próxima de Trump e Infantino, que já se encontraram diversas vezes sempre com fotos sorridentes. Infantino parece ser um grande fã de Trump e foi um defensor declarado da candidatura do presidente norte-americano ao Prêmio Nobel da Paz, que acabou sendo concedido à líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. Por isso há rumores de que Trump possa ser o primeiro vencedor do prêmio.
Donald Trump tem capitalizado em cima da Copa, não só como um dos destaques do seu segundo mandato, mas como uma peça-chave das celebrações dos 250 anos da independência dos EUA, comemorada em 4 de julho do ano que vem, bem no meio da Copa do Mundo.
Expectativas x imigração
As expectativas para o sorteio em Washington estão altas, mas também tensas, principalmente pelo peso político que o evento ganhou nos Estados Unidos. O torneio, que deveria ser um momento puramente esportivo, acabou virando mais um palco para a administração reforçar sua retórica sobre controle de fronteiras, segurança nacional e projeção de força internacional.
Trump apresenta o sorteio como uma vitória diplomática norte-americana e como símbolo da retomada do ‘prestígio global’ dos EUA, mesmo que às custas de conflitos geopolíticos gerados pela política de vistos. Esse evento é mais uma oportunidade que ele vai usar para defender que sua política externa é firme, coerente e capaz de “proteger o país”, com um discurso voltado ao público doméstico.
A Copa de 2026 acontecerá em 16 cidades, sendo 11 nos Estados Unidos, duas canadenses e três mexicanas como sedes. O governo de Donald Trump é quem ficou responsável por coordenar a logística, segurança e, claro, os vistos necessários para receber torcedores estrangeiros.
Tensão geral
Organizações de direitos humanos (Human Rights Watch – HRW, Anistia Internacional e American Civil Liberties Union – ACLU) já denunciam que as políticas migratórias do governo podem gerar abusos contra torcedores, imigrantes e visitantes internacionais.
Elas afirmam que há o risco de detenções arbitrárias, batidas do ICE (a polícia de imigração) em cidades-sede ou próximas, inclusive fora dos estádios, e uma atmosfera de medo entre comunidades de imigrantes. Essas organizações pedem à FIFA que exija comprometimentos concretos dos EUA para garantir segurança e direitos a todos os participantes e torcedores.
Apesar de haver promessa de vistos facilitados para quem quiser assistir aos jogos, a entrada não é garantida apenas pela compra de ingressos, e a política migratória atual gera incerteza.
O caso mais emblemático é o do Irã, que ameaçou boicotar o sorteio após a negação de visto ao presidente da federação iraniana. A decisão, considerada “alheia ao esporte”, evidencia as restrições que afetam cidadãos de 19 países e simboliza as tensões diplomáticas que podem impactar a Copa antes mesmo do início dos jogos que vão de 11 de junho a 19 de julho de 2026.
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