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Reunião entre EUA e Rússia termina sem acordo sobre territórios ocupados na Ucrânia
Apesar da falta de compromissos sobre o tema, o governo russo classificou o encontro como ‘útil e construtivo’
O Kremlin declarou na terça-feira 2 que não foi alcançado “nenhum compromisso” sobre a questão crucial dos territórios ocupados na Ucrânia durante o encontro entre o presidente russo Vladimir Putin e o enviado do governo americano Steve Witkoff, mas considerou a reunião “útil e construtiva”.
O líder russo se reuniu por cerca de cinco horas em Moscou com Witkoff e o genro de Donald Trump, Jared Kushner, para discutir o plano dos Estados Unidos que busca pôr fim à guerra na Ucrânia, apresentado duas semanas atrás e reelaborado desde então em consultas com os ucranianos.
A reunião na capital russa aconteceu após vários dias de intensas gestões diplomáticas para tentar encerrar o conflito mais violento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
“Houve alguns pontos em que conseguimos chegar a um acordo”, declarou o principal assessor do Kremlin, Yuri Ushakov. No entanto, “o presidente [Putin] não escondeu nossa postura crítica, até negativa, sobre várias propostas”.
Quanto à questão dos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia, que representam aproximadamente 19% do país, “não encontramos nenhum compromisso, mas algumas soluções americanas podem ser debatidas”, afirmou Ushakov.
Em uma entrevista exibida na terça-feira à noite no canal Fox News, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que as conversas com a Rússia alcançaram “algum progresso” para tentar acabar com a guerra na Ucrânia. Contudo, não ficou claro quando a entrevista foi gravada.
Após o encontro com os russos em Moscou, Witkoff e Kushner devem se reunir com uma delegação ucraniana nesta quarta-feira, possivelmente em Bruxelas, informou à AFP um alto funcionário de Kiev.
Momento crítico para Kiev
Donald Trump afirmou na terça-feira que não será fácil avançar rumo ao fim de uma guerra que já dura quase quatro anos.
“Não é uma situação fácil, garanto. Que desastre”, declarou durante uma reunião de gabinete na Casa Branca.
Por sua vez, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, sob forte pressão política e diplomática, pediu durante uma visita à Irlanda o fim da guerra e não “apenas uma pausa” nos combates.
Em mensagem postada nas redes sociais, o presidente ucraniano afirmou que “não haverá soluções fáceis”.
“O importante é que tudo seja justo e transparente […] Que nada seja decidido sem a Ucrânia sobre nós, sobre o nosso futuro”, escreveu na postagem.
A reunião entre americanos e russos se deu em um momento crítico para a Ucrânia.
Kiev tem sido sacudida por escândalos de corrupção, que provocaram com a demissão do chefe de gabinete de Zelensky.
Nas últimas semanas, Moscou também intensificou seus ataques com drones e mísseis contra a Ucrânia.
Putin ordenou a ação militar em larga escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022.
Dezenas de milhares de civis e militares morreram desde então, e milhões de ucranianos viram-se obrigados a deixar suas casas.
Os europeus temem que Washington e Moscou fechem um acordo sem envolvê-los ou forcem os ucranianos a fazer concessões injustas.
Antes do encontro com os enviados americanos, Putin acusou os europeus de dificultarem os esforços para pôr fim ao conflito e insistiu em que a Rússia está pronta para a guerra “se a Europa quiser e começar”.
O plano americano de 28 pontos apresentado no mês passado estava tão estreitamente alinhado com as exigências russas que provocou acusações de que Moscou havia participado de sua redação, o que Washington nega.
Avanço russo
Witkoff se reuniu com Putin em várias ocasiões, mas veículos de imprensa americanos reportaram que esta seria a primeira vez que Kushner — que ajudou a negociar o cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza no começo do ano — participaria das conversas com Putin.
No terreno, forças russas realizaram em novembro seu maior avanço no front ucraniano em um ano, segundo uma análise da AFP dos dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), que trabalha com o Critical Threats Project (CTP).
Em um mês, a Rússia tomou 701 km² dos ucranianos, o segundo avanço mais importante depois do ocorrido em novembro de 2024 (725 km²), excluindo os primeiros meses da guerra, na primavera boreal de 2022.
Na segunda-feira, a Rússia reivindicou a conquista da cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, um centro logístico estratégico para Kiev, assim como de Vovchansk, no nordeste. No entanto, a Ucrânia afirmou na terça-feira que os combates em Pokrovsk continuam.
Também em novembro, a Rússia lançou mais mísseis e drones em ataques noturnos contra a Ucrânia do que no mês anterior, com um total de 5.660 projéteis e aeronaves não tripuladas de longo alcance (+2%).
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