Política
Como a Operação Contenção reacendeu o medo da violência
A alta foi de 12 pontos em um mês, conforme sondagem Ipsos. O movimento ocorreu após a Operação Contenção, no Rio de Janeiro
A preocupação com crime e violência disparou 12 pontos percentuais em um mês, chegou a 52% e aparece em primeiro lugar no ranking de receios dos brasileiros, indica uma pesquisa Ipsos divulgada nesta terça-feira 2.
Os segundos colocados, pobreza e desigualdade social, tiveram 38% das menções, seguido por saúde, com 36%. Cada entrevistado podia mencionar até três tópicos de preocupação.
Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, o crescimento do temor sobre segurança é brusco, mas não imprevisível, por refletir a operação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, no fim de outubro.
A magnitude da Operação Contenção, diz Calliari, amplificou a sensação de urgência e risco, o que ajuda a explicar o avanço da preocupação com violência em novembro.
O instituto identificou no entretenimento outro fator responsável por aquecer o debate público sobre criminalidade: o lançamentos das séries Tremembé, no Prime Video, e Os Donos do Jogo, na Netflix.
Os dados fazem parte da pesquisa O que preocupa o mundo?, com entrevistas em 30 países. O Brasil é o sexto mais preocupado com violência, atrás apenas de Peru, Chile, México, Suécia e África do Sul.
Outras sondagens captam um estado de ânimo semelhante. Um levantamento AtlasIntel publicado também nesta terça-feira mostra que 54% dos brasileiros acreditam que o governo Lula é pior que o de Jair Bolsonaro (PL) em segurança pública, contra 41% que preferem a gestão petista nessa seara. A Atlas questionou ainda a expectativa de escalada do crime organizado: 59% dos entrevistados consideram provável ou muito provável um aumento de ataques ou assassinatos ligados a facções — enquanto outros 24% classificam esse cenário como “algo provável”.
Na mesma pesquisa, 62,7% dos brasileiros definiram criminalidade e tráfico de drogas como o maior problema do País, seguidos por corrupção (59,8%), economia e inflação (21,9%), extremismo e polarização política (21,5%), e enfraquecimento da democracia (16,1%).
Para o cientista político Josué Medeiros, colunista de CartaCapital, os sentidos da Operação Contenção — dada a combinação de violência e ampla exposição midiática — ainda estão em aberto. Em análise publicada em novembro, ele argumenta que, caso o governo Lula consiga desencadear uma ação efetiva contra as facções do tráfico no Rio de Janeiro, a exemplo do que ocorreu com o principal grupo criminoso de São Paulo, poderá reconfigurar a disputa política.
Não à toa, o governo federal busca viabilizar no Congresso Nacional a aprovação de suas principais propostas para a área, a PEC da Segurança Pública e o PL Antifacção, embora a conjuntura no Legislativo indique que o Planalto não conseguirá evitar mudanças profundas em ambas as matérias.
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