Mundo
Plano de paz na Ucrânia: saiba quais são os interesses dos americanos nas negociações com Moscou
Imprensa da França e dos EUA apontam a parcialidade do governo Trump nas negociações
A imprensa francesa acompanha com desconfiança a missão de Steve Witkoff em Moscou, apontando sinais de parcialidade e interesses econômicos por trás do plano americano para encerrar a guerra na Ucrânia. Jornais como Le Figaro e Le Monde destacam que Washington parece mais preocupado em abrir portas para negócios com oligarcas russos do que em garantir a soberania ucraniana, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, tenta manter a Europa na mesa de negociações.
O enviado especial dos Estados Unidos para negociações de paz, Steve Witkoff, visita Moscou nesta terça-feira 2 para negociar com o presidente russo, Vladimir Putin, o plano de Washington para encerrar os combates na Ucrânia.
Ainda que o objetivo principal da viagem, da qual também participa o genro do presidente Donald Trump, Jared Kushner, seja pôr fim à guerra, o jornal Le Figaro aponta outros possíveis interesses americanos na negociação. O diário francês explica como representantes russos entraram em contato discretamente com companhias americanas a fim de apresentar perspectivas de negócios, como contratos de exploração de minerais e hidrocarbonetos em parceria com empresas russas, caso as sanções contra Moscou fossem retiradas.
Entre os negócios potenciais estão minas de terras raras e concessões de gás na Sibéria. De acordo com a reportagem, “as negociações comerciais sempre estiveram no centro dos debates entre Washington e Moscou”.
Parcialidade
A sensação de parcialidade do plano americano em favor da Rússia foi reforçada pela publicação de 28 pontos, negociados entre os dois países, mas que, segundo a imprensa americana, compreendem quase literalmente as reivindicações do Kremlin.
O jornal Le Monde analisa como Steve Witkoff, que recebeu a delegação ucraniana para conversas no seu clube de golfe na Flórida, no domingo 30, dedica mais tempo a ouvir Moscou do que Kiev. De acordo com o diário francês, para os europeus restam “dúvidas sobre a confiabilidade do aliado americano”.
O slogan “fazer dinheiro e não a guerra” ganha destaque nas negociações, segundo o Wall Street Journal, citado pelo Le Monde. O diário francês reitera os contatos prévios ocorridos entre oligarcas russos e empresários dos Estados Unidos, de olho nos possíveis contratos após a assinatura de um acordo de paz com a Ucrânia, especialmente na área de energia.
O jornal Libération destaca a décima visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Paris, desde a invasão russa em seu país, em 2022. “Nossas prioridades são evidentes”, disse Zelensky, exigindo “garantias de segurança, independência e soberania da Ucrânia”.
O presidente Emmanuel Macron tenta garantir o papel dos europeus na mesa de negociação, especialmente quando o assunto é o dinheiro russo congelado na Europa desde o início da guerra: cerca de 200 bilhões de euros, cujo destino será objeto de discussão entre os Estados-membros da União Europeia.
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