Mundo
Lula cobra ação global contra desigualdade e clima no G20 na África do Sul
Presidente defende taxação de super-ricos, reformas na dívida de países pobres e liderança do G20 na transição energética
Em dois discursos distintos durante a Cúpula de Líderes do G20, realizada neste sábado 22 em Joanesburgo, na África do Sul, o presidente Lula (PT) pressionou países desenvolvidos por maior compromisso com o combate à desigualdade, o financiamento climático e a reforma da governança econômica global.
Na primeira sessão do encontro, dedicada ao crescimento sustentável, Lula afirmou que o G20 corre risco de perder relevância diante da escalada de protecionismo e unilateralismo. “O próprio funcionamento do G20 como instância de diálogo e coordenação está ameaçado”, disse. Ele defendeu que o grupo assuma a liderança na construção de soluções multilaterais em um momento que chamou de “mundo conflagrado”, citando os conflitos na Ucrânia, em Gaza e a crise no Sudão.
O presidente criticou a austeridade adotada após a crise financeira de 2008, que, segundo ele, “aprofundou desigualdades e ampliou tensões geopolíticas”. Para Lula, a desigualdade extrema tornou-se um “risco sistêmico para todas as economias” e deve ser tratada como “emergência global”. Ele reiterou a proposta de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade e cobrou o debate urgente sobre taxação de grandes fortunas: “O debate sobre tributação internacional e taxação dos super-ricos é inadiável”.
Na segunda sessão do dia, dedicada à construção de um “mundo resiliente”, Lula vinculou diretamente desigualdade social, crise climática e responsabilidade das grandes economias. Ele ressaltou que 2025 marca o ano em que o planeta ultrapassou pela primeira vez o limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Ao mencionar a COP30, em fase final de negociação em Belém, o presidente celebrou que “na COP da verdade, a ciência prevaleceu. O multilateralismo venceu”. Lula afirmou que o mundo entrou em uma nova etapa, que exige simultaneamente acelerar a redução de emissões e adaptar países a eventos extremos: “O clima vai colocar à prova nossas pontes, rodovias, edifícios e linhas de transmissão”.
Lula também destacou a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, lançada pelo Brasil na COP30, com compromissos voltados ao fortalecimento da proteção social, apoio a pequenos produtores e alternativas sustentáveis para populações de florestas. “Vai contra nosso sentido mais elementar de justiça permitir que as maiores vítimas da crise climática sejam aquelas que menos contribuíram para causá-la”, afirmou.
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