Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Inteligência artificial na música atende a um público que não busca profundidade, diz João Taubkin
Em seu sexto álbum autoral, músico recusa ‘desejos’ estéticos e reúne influências de uma vida em trânsito
Com mais de duas décadas de trajetória e seis discos autorais no currículo, João Taubkin volta à cena com Um Silêncio Extraordinário. Lançado em 2025, o álbum traz um instrumental inspirado e profundo, sem amarras a padrões sonoros. “Considero as minhas produções expressões de rebeldia”, resume.
Baixista, arranjador e produtor, Taubkin assina todas as etapas do novo disco. “Ele é a convergência de muitas influências que carrego ao longo da vida. Não só musicais, mas literárias e cinematográficas”, explica. Nada ali, garante, foi pensado para corresponder a expectativas. “Não é lacração. É só a forma como sinto a vida.”
O álbum nasce da formação enxuta de um trio: Taubkin no baixo, Zé Godoy no piano e Vitor Cabral na bateria, com a participação do clarinetista Alexandre Ribeiro em duas faixas. São nove composições inéditas que partem de um eixo jazzístico, mas se expandem para o candomblé, o tango, o bolero, o samba de roda e a música erudita.
Essa mistura, conta o músico, é fruto de um percurso iniciado ainda na adolescência. Filho do pianista Benjamin Taubkin, cresceu cercado por referências inusitadas e pouco difundidas.
Na vida profissional, o mosaico só se ampliou: trabalhou com artistas de diferentes continentes, muitos profundamente ligados às tradições de suas culturas.
Entre essas vivências, Taubkin cita o maloya da Ilha da Reunião, a música do povo Gnawa do Marrocos, ritmos do candomblé, o congado mineiro e o vallenato colombiano, além de colaborações com nomes como Joni Mitchell, Bill Evans, Milton Nascimento e Oumou Sangaré.
O instrumentista diz se incomodar muito quando produtores deixam o baixo sem voz nas gravações, “afundado” na mixagem. “A música perde muito com isso. O baixo é o ponto de conexão entre o ritmo e a harmonia”, ressalta. “Ao mesmo tempo, a minha forma de pensar música não se limita ao meu instrumento. Quando componho, não penso a música apenas através do baixo, mas em outros instrumentos também”.
Se a experiência o fez perseguir autenticidade, ela também o torna crítico a certas tendências contemporâneas. As produções geradas por inteligência artificial, por exemplo, lhe soam rasas. “Elas atendem a um público que não busca profundidade”, afirma. Mais do que isso: segundo ele, mesmo a música feita por humanos caminha para uma estética “artificial”, cada vez mais formatada. “Falta espírito.”
Para Taubkin, o momento pede justamente o contrário: celebrar o processo criativo, o risco e a imperfeição. “Tudo ficou muito calculado. O acaso quase não acontece e as criações livres perderam espaço. Há uma crise de percepção.”
Enquanto apresenta o novo álbum, o músico já desenvolve um trabalho de viés mais erudito, mantendo o espírito de liberdade que permeia sua música.
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