Economia

Número de sindicalizados no Brasil cresce em 2024 e chega a 9,1 milhões

Os dados mostram uma interrupção da sequência de quedas no volume de filiados a sindicados registrada desde 2012 pelo IBGE

Número de sindicalizados no Brasil cresce em 2024 e chega a 9,1 milhões
Número de sindicalizados no Brasil cresce em 2024 e chega a 9,1 milhões
São Paulo (SP), 07/09/2025 - Centrais sindicais e os movimentos populares que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizam ato em defesa da soberania e da pauta da classe trabalhadora, na Praça da República. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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O número de trabalhadores sindicalizados no Brasil interrompeu uma trajetória de mais de dez anos de queda e ganhou 812 mil pessoas em 2024. Dessa forma, o percentual de sindicalizados chega a 8,9% dos 101,3 milhões de trabalhadores ocupados.

Com o acréscimo, o país registrou 9,1 milhão de pessoas associadas a sindicatos de trabalhadores em 2024, avanço de 9,8% em relação a 2023, quando eram 8,3 milhões. Mas o contingente ainda está bem abaixo dos 14,4 milhões de 2012 – recuo de 36,8% em 12 anos.

A constatação está em edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta quarta-feira 19 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa traz dados anuais desde 2012, com exceção de 2020 e 2021, por causa da pandemia de cCovid-19, que inviabilizou a coleta de dados. Em 2012, os sindicalizados representavam 16,1% dos ocupados.

Trajetória da proporção de sindicalizados:

  • 2012: 16,1%
  • 2013: 16,0%
  • 2014: 15,7%
  • 2015: 15,7%
  • 2016: 14,8%
  • 2017: 14,2%
  • 2018: 12,4%
  • 2019: 11,0%
  • 2022: 9,2%
  • 2023: 8,4%
  • 2024: 8,9%

Efeito reforma trabalhista

Ao comentar a trajetória de queda até 2023, o analista da pesquisa, William Kratochwill, nota a relação entre o ano de 2017, quando começou a ficar mais acentuada a queda no número de sindicalizados e a reforma trabalhista, aprovada naquele ano.

“Os dados mostram uma correlação forte entre a implantação da lei e a queda do percentual de pessoas sindicalizadas”, aponta.

Uma das mudanças provocadas pela reforma foi o fim da contribuição sindical obrigatória.

Sobre o aumento de 2023 para 2024, Kratochwill acredita em uma recuperação da percepção dos trabalhadores sobre o papel dos sindicatos.

“O número de sindicalizados chegou a um valor muito baixo e, talvez, as pessoas estejam começando a verificar novamente a necessidade de se organizar, lutar pelos direitos dos trabalhadores, e isso se dá muito por meio do sindicato”, afirma.

Mais velhos

Ao detalhar o saldo positivo de 812 mil sindicalizados entre filiações e desfiliações de 2024, o IBGE percebe que, de cada dez trabalhadores que se sindicalizaram, oito estavam na faixa etária a partir de 30 anos.

No grupo de 40 a 49 anos de idade estão 32% dos trabalhadores que se filiaram no ano passado.

“Talvez seja uma recuperação daquelas pessoas que um dia já tenham sido sindicalizadas e retornaram”, sugere Kratochwill.

Já o grupo de 14 a 19 anos representa apenas 0,7% do saldo de 812 mil sindicalizados. Outro dado que mostra menor presença dos jovens nos sindicatos é que, enquanto a taxa nacional é de 8,9% dos trabalhadores ligados aos sindicatos, na faixa de 14 a 19 anos é de 1,6%. No grupo de 20 a 29 anos, de 5,1%.

“Não há ainda uma grande renovação dos quadros de associação a sindicato”, destaca o analista.

Setores

O IBGE divide os trabalhadores em dez grupamentos de atividade e constatou que, de cada dez sindicalizados, três (30,9%) atuam no grupamento administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais.

Em seguida, figuram os grupamentos indústria (16,4% dos sindicalizados) e informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (13,3%).

Observando categoria a categoria, a pesquisa mostra que o grupamento administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais é o que tem maior parcela de sindicalizados (15,5%).

Confira a taxa de associação por grupamento:

  • Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: 15,5%
  • Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura: 14,8%
  • Indústria geral: 11,4%
  • Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas: 9,6%
  • Transporte, armazenagem e correio: 8,3%
  • Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas: 5,6%
  • Alojamento e alimentação: 4,2%
  • Construção: 3,6%
  • Outros serviços: 3,4%
  • Serviços domésticos: 2,6%

O pesquisador do IBGE lembra que o setor público sempre teve maior participação na sindicalização. Dessa forma, ele acredita que “quem entra para o setor público acaba tendo uma tendência maior [de se sindicalizar]”, diz.

Escolaridade

A Pnad mostra que entre os trabalhadores com nível superior completo, a taxa chega a 14,2%, acima do patamar do país como um todo (8,9%).

Entre os ocupados que têm ensino médio completo e superior incompleto, a taxa é 7,7%. Entre os com fundamental completo e médio incompleto, 5,7%.

“O esclarecimento que se dá por meio do nível de instrução pode favorecer movimentos no sindicalismo”, avalia Kratochwill.

Tipo de contrato

Os dados mostram que empregados no setor público têm taxa de sindicalização de 18,9% ─ mais que o dobro da média nacional. Em seguida aparecem os empregados com carteira assinada (11,2%). No grupo dos trabalhadores por conta própria, apenas 5,1% são filiados. Entre os sem carteira de trabalho assinada, a taxa é de 3,8%.

“Além de não ter todos os seus benefícios sociais, a segurança social, o trabalhador informal ainda carece de um meio de luta pelas melhorias do mercado de trabalho”, constata Kratochwill.

Homens e mulheres

O IBGE aponta que, desde 2012, tem diminuído a diferença entre homens e mulheres no universo sindical.

Em 2012, eles eram 61,3% do total e elas, 38,7%. Doze anos depois, a relação é de 57,6% homens e 42,4% mulheres.

Observando pela taxa de associação, em 2012 a parcela de homens sindicalizados era 16,9%. A de mulheres, 14,9%. Ambas perderam força até 2024, quando a dos homens ficou em 9,1% e a das mulheres em 8,7%.

Isso representa que a diferença entre os dois sexos passou de 2 pontos percentuais para 0,4. Em 2022, a participação entre elas (9,3%) chegou a superar a deles (9,1%).

De acordo com William Kratochwill, no intervalo de 12 anos, as mulheres “largaram” menos a sindicalização e, agora, estão acompanhando o aumento no número de associados.

Cooperativismo

O levantamento revela que o país vivencia trajetória de queda no número de empregadores ou trabalhadores por conta própria associados a cooperativas, organização econômica e social em que as pessoas podem se agrupar de forma voluntária e buscar negócios mais democráticos e participativos.

Em 2012 eram 1,5 milhão de pessoas, o que representava 6,3% dos trabalhadores ocupados. Em 2024 esse contingente somava 1,3 milhão (4,3% dos trabalhadores), o menor já registrado na série histórica.

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