COP30
ONGs denunciam presença de lobistas dos combustíveis fósseis na COP30
Um total de 1.602 delegados com vínculos com os setores de petróleo, gás e carvão chegaram a Belém, no estado do Pará, nos últimos dias
Lobistas vinculados à indústria de combustíveis fósseis participam em grande número nas negociações climáticas da ONU em Belém, denunciou nesta sexta-feira 14 uma coalizão de ONGs, que alerta que a presença destas pessoas prejudica o processo da COP30.
Um total de 1.602 delegados com vínculos com os setores de petróleo, gás e carvão chegaram a Belém, no estado do Pará, o que equivale a quase uma pessoa para cada 25 participantes, segundo a coalizão ‘Kick Big Polluters Out’ (KBPO), que analisou a lista dos presentes.
Em comparação, o anfitrião Brasil tem 3.805 delegados na COP30.
A lista compilada pela KBPO inclui representantes dos gigantes ExxonMobil, Chevron, Shell e TotalEnergies. Também conta com representantes de petrolíferas estatais de países da África, Brasil, China e do Golfo.
A relação inclui pessoas de uma ampla gama de empresas como a fabricante alemã de automóveis Volkswagen, a gigante dinamarquesa do transporte marítimo Maersk, assim como representantes de associações comerciais e outros grupos.
A Fundação de Sustentabilidade de Veneza também está na lista porque entre seus membros está a petrolífera italiana Eni.
A KBPO também incluiu o gigante dinamarquês de energia eólica Orsted, que mantém um negócio no comércio de gás, assim como a francesa EDF, pois embora a maior parte de sua energia venha de usinas nucleares, a empresa ainda utiliza alguns combustíveis fósseis, e a estatal de energias renováveis Masdar, dos Emirados Árabes Unidos.
O analista Patrick Galey, diretor de pesquisas sobre combustíveis fósseis na Global Witness, disse à AFP que, à primeira vista, alguns nomes poderiam parecer “surpreendentes”, mas a KBPO analisou informações e material público para identificar os participantes da cúpula que têm vínculos com a indústria dos combustíveis fósseis.
Qualquer empresa de recursos renováveis que seja uma subsidiária de um grupo de combustíveis fósseis está na lista porque está “à inteira disposição” de seu grupo parente, disse Galey.
A KBPO considera um lobista de combustíveis fósseis qualquer delegado que “represente uma organização ou seja membro de uma delegação da qual se possa assumir razoavelmente que tem o objetivo de influenciar” políticas ou legislações que sirvam aos interesses das indústrias do petróleo, gás e carvão.
A coalizão começou a analisar a lista oficial dos participantes da COP em 2021. A COP28 em Dubai, rica em petróleo, aconteceu em 2023 com um número recorde de participantes (mais de 80 mil), mas também teve o maior número de lobistas que a KBPO já registrou: 2.456, 3% do total de participantes.
Em Belém, 3,8% dos participantes estão ligados a interesses do setor de combustíveis fósseis, a maior proporção já documentada pela KBPO.
A ONU começou a publicar uma lista mais completa de participantes na COP28, o que dificulta as comparações históricas.
“É senso comum que não se pode resolver um problema dando poder àqueles que o provocaram”, declarou Jax Bonbon, membro da Kick Big Polluters Out como representante da IBON International nas Filipinas, país que recentemente foi atingido por um tufão devastador.
“Ainda assim, três décadas e 30 COPs depois, mais de 1.500 lobistas do setor de energias fósseis circulam pelas negociações climáticas como se pertencessem ao local”, acrescentou Bonbon em um comunicado.
Os números podem ser ainda mais elevados. Segundo a Transparência Internacional, 54% das delegações nacionais ocultaram sua afiliação ou selecionaram uma categoria vaga como “convidado” ou “outro”.
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