Psicodelicamente

Revista digital independente de jornalismo psicodélico, criada pelo jornalista Carlos Minuano

Psicodelicamente

Filme com manifesto amazônico ecoa na COP30 e Espanha

Curta com Txai Suruí, Célia Xakriabá e outras lideranças indígenas e espirituais, produzido pela Psicodelicamente e Bari Filmes, terá exibições em Belém e Valência

Filme com manifesto amazônico ecoa na COP30 e Espanha
Filme com manifesto amazônico ecoa na COP30 e Espanha
(Foto: Clara Nana)
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O povo da floresta há muito se orienta pelo tempo da natureza, afirma Xinã Yawanawá. “A gente não sabia o que era relógio, a gente vivia nessa conexão com a lua, com os elementos.” Segundo ele, a avó dizia que, quando a lua estava torta, era inverno, e também era ela quem indicava quando iria chover. “Mas com o clima hoje, ninguém sabe se a lua vai estar lá, se vai chover ou se não vai.”

Essa é uma das vozes que compõem a narrativa do curta documental “Manifesto União dos Povos”, que reúne lideranças indígenas, espirituais e ativistas para refletir sobre cultura, espiritualidade, plantas psicodélicas e mudanças climáticas. O filme será exibido na próxima terça (18), às 17h, no domo de cinema da Freezone, área que integra a programação cultural da COP30, na praça da Bandeira, no centro histórico de Belém (PA). Nesta semana (14 e 15), a produção também participa da primeira edição internacional do Festival Seda (Semana do Audiovisual) da Mídia Ninja, em Valência, na Espanha.

Gravado durante a edição deste ano do Fiup (Festival Indígena União dos Povos), em Arujá (SP), o curta é fruto de uma parceria entre a Psicodelicamente e a Bari Filmes na produção e direção. A produtora tem foco em projetos de impacto socioambiental e cultural, além de filmes institucionais com propósito.

O filme contou ainda com coprodução do Fiup e apoio do LIS (Lar e Integração do Ser), centro vegetalista sediado na região serrana do Rio de Janeiro, dedicado às práticas espirituais originárias do Alto Amazonas peruano e ao diálogo entre ciência e espiritualidade. O LIS também apoia a sessão em Belém.

A direção principal ficou a cargo de Renato Libanoro, que assina seus filmes como Natorê, mesmo diretor de “Mistério do Nixi Pae”, também da Bari Filmes. O curta é codirigido por este repórter e pelo indígena Xinã Yawanawá.

A obra condensa uma mensagem em defesa da vida na Terra e traz um alerta sobre os desafios do aquecimento global, como sinaliza a ativista Txai Suruí, que participa do filme. “Hoje a gente nem chama mais de mudanças climáticas. No momento que a gente está vivendo, chamamos de emergências climáticas, trazendo essa urgência mesmo, a gente não tem mais tempo.”

Na COP30, a exibição do curta será seguida de roda de conversa com lideranças indígenas e realizadores. Participam Xinã Yawanawá, este repórter, representando a Psicodelicamente, e o diretor Natorê (Renato Libanoro), da Bari Filmes. A mediação será de Érica Rosendo, diretora do Fiup.

A diversidade na roda reflete a ideia de união defendida pelo curta: indígenas e não indígenas, na compreensão de que pertencemos à mesma humanidade e de que, em vez de brigar e guerrear, precisamos nos unir em defesa da terra, da floresta e da vida.

Os ensinamentos para isso estão na própria natureza, como lembra o líder espiritual do LIS, o peruano Randy Gonzales, em depoimento ao filme. “Os professores são as plantas, elas que nos ensinam mediante as dietas, com a diversidade de plantas que existem na Amazônia. Para mim, elas são uma universidade.”

Jovem liderança do povo Yawanawá, Xinã Yawanawá, que integra a equipe do filme,  reforça a centralidade da floresta como mensagem para o mundo. Para ele, manter a mata “de pé” é garantir a proteção dos seres que nela vivem e preservar um acervo de saberes.

 “A floresta é nossa grande biblioteca.” Ele destaca Belém como palco de um “novo momento” para o país e afirma que o curta ajuda a levar essa consciência a quem nunca esteve na Amazônia, reconhecendo os povos indígenas como família e como sujeitos de direitos no centro da conversa.

Curta será exibido na Espanha

Após duas exibições em São Paulo, em outubro, dentro da programação do Psychedelic Talks, evento que celebrou três anos da Psicodelicamente, e antes de chegar à COP30, o filme segue viagem para a Europa. O curta “Manifesto União dos Povos” será exibido nesta sexta 14 na edição internacional do Festival Seda (Semana do Audiovisual) da Mídia Ninja, em Valência, na Espanha.

Idealizado pela frente audiovisual da Mídia Ninja, o Cine Ninja, o Festival Seda chega à sua primeira edição internacional nos dias 14 e 15 de novembro. Criado para difundir produções independentes e engajadas, o evento já percorreu diferentes estados brasileiros e agora amplia seu alcance com uma mostra dedicada ao cinema indígena contemporâneo do Brasil.

Durante dois dias, a programação reúne curtas-metragens dirigidos por cineastas de diversos povos originários, seguidos de debates e encontros sobre território, memória e resistência cultural, em sincronia com a COP30 (que segue até 21 de novembro, em Belém), que registra participação indígena recorde nas conferências do clima. Nesse contexto, “Manifesto União dos Povos” reforça a presença dessas vozes no debate global sobre clima, justiça socioambiental e o futuro da Terra. “Estamos num momento chave em que precisamos reflorestar nossas mentes e nossas telas, reorganizar nossas noções de consumo e regenerar de dentro para fora, refazendo nossa conexão com a natureza primeiro em nós mesmos”, afirma Renato Libanoro (Natorê).

Para ele, o audiovisual cumpre papel importante quando se alinha à terra e aos povos indígenas, levando mensagens como a do filme a públicos que muitas vezes nunca olharam a vida pela perspectiva da floresta. Participam do curta Célia Xakriabá, Thiago Karai Djekupé, Xinã Yawanawá, Txai Suruí, Jovina Kaingang, Ninawa Huni Kui, Léo Artese, Joenia Wapichana e o peruano Randy Gonzales.

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