COP30

Dois Dedos de Prosa com Márcio Astrini

Mobilização vista em Belém tem de continuar depois da Conferência, diz o diretor-executivo do Observatório do Clima

Dois Dedos de Prosa com Márcio Astrini
Dois Dedos de Prosa com Márcio Astrini
O diretor-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini. Foto: José Cruz/Agência Brasil
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Diretor-executivo do Observatório do Clima, maior rede de organizações ambientalistas do Brasil, o gestor público Márcio Astrini tem se desdobrado nesta primeira semana de COP30 entre os eventos organizados pela entidade e as negociações oficiais na Blue Zone.

Em conversa com CartaCapital, ele ressaltou o descompasso entre os interesses de ricos e de pobres. Confira os destaques da entrevista:

CartaCapital: O que representa a postura preguiçosa dos países ricos quanto à apresentação de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas ao financiamento e até mesmo ao Fundo Tropical Florestas para Sempre?

Márcio Astrini: Essa lentidão e essa falta de ambição de grande parte dos países desenvolvidos significam que continuaremos vendo o planeta aquecer, o clima ficar mais extremo e as pessoas, principalmente as mais pobres, continuando a perder o pouco que têm — quando não pagarem com a própria vida.

CC: Como diminuir o fosso entre o que pretendem os ricos e as necessidades cada vez mais urgentes de adaptação dos países em desenvolvimento?

MA: Os investimentos que faltam para resolver a crise do clima sobram para promover guerras. Aliados aos grandes grupos de investimento, os governos dos países ricos continuam apostando no colapso climático, com isenções fiscais e grandes aportes financeiros em combustíveis fósseis. A Arábia Saudita, em seu primeiro discurso em plenário, disse que a COP não pode produzir cobranças que punam seus interesses em petróleo. Porém, o prejuízo de quem já perdeu tudo pelos extremos climáticos não entrou na lista de preocupações do país.

CC: Os governos e a sociedade civil vivem em realidades paralelas?

MA: A sociedade vem participando cada vez mais da pauta de clima. No Brasil, a COP aproximou da agenda ambiental diversos setores que antes não estavam familiarizados com ela. Sua presença na COP é importante e, quanto mais gente nas ruas e nos corredores pressionando, melhor.

CC: Como aproximar as duas agendas?

MA: É importante lembrar que a COP é um momento dentro da agenda de clima. As duas semanas de conferência são importantíssimas, mas devemos lembrar que as outras 50 semanas do ano, fora da COP, são também decisivas para que essa voz e essa pressão sobre os tomadores de decisões tenham efeito. Portanto, esse enorme movimento que vemos na COP tem que continuar depois dela. E, no caso do Brasil, principalmente no ano que vem, ano de eleição.

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