Do Micro Ao Macro
Microtorrefação cresce 48% em Minas Gerais e atrai cafeicultores
Demanda por cafés especiais impulsiona o avanço da microtorrefação em Minas Gerais, com 48% mais negócios abertos entre janeiro e agosto de 2025.
O setor de microtorrefação avança em Minas Gerais, impulsionado pela busca por cafés de alta qualidade e pela valorização da origem dos grãos.
Dados da Receita Federal mostram que, entre janeiro e agosto de 2025, o estado registrou quase 50 novos negócios com a classificação “torrefação e moagem de café”, um aumento de 48% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Atualmente, Minas conta com 863 empresas ativas nesse segmento, sendo 728 microempresas e 135 de pequeno porte.
Do grão à marca própria
A microtorrefação consiste na torra artesanal de café em pequena escala, geralmente em microlotes de até 30 sacas. O produto é envasado em pacotes de 200g a 3kg, em grão ou moído, permitindo maior controle sobre o processo de torrefação e o realce das características sensoriais do café. Além do aspecto técnico, o modelo favorece o desenvolvimento de marcas próprias e o fortalecimento do vínculo entre produtor e consumidor.
“O café não é mais uma commodity, ele tem uma história. E na microtorrefação, o movimento para construir esse storytelling é muito forte”, afirma Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Segundo ele, o segmento ajuda a valorizar as Indicações Geográficas (IGs), que reconhecem o terroir de cada região, e reforça a identidade e a narrativa dos produtores junto ao público.
Conhecimento e valor agregado
Os consumidores que procuram cafés de microtorrefações buscam rastreabilidade, sustentabilidade e perfis sensoriais específicos. “Os empreendedores que atuam na microtorrefação precisam dominar o processo de torra, entender de maquinário e ter paladar apurado. Por isso, a capacitação é indispensável”, destaca Inácio.
A produtora Ilma Rosa Franco, de 69 anos, é exemplo dessa tendência. À frente do Sítio Terra Nova, em Campestre (MG), ela investe na torra há oito anos e conseguiu aumentar em 50% o valor agregado do café. “Passei a controlar toda a cadeia, do plantio à xícara, e isso transformou meu negócio”, explica.
O Café Rosa Franco é comercializado por WhatsApp, Instagram e em cafeterias da região. A propriedade de 68 hectares produz cerca de 600 sacas por ano, das quais 120 são classificadas como café especial, com pontuação acima de 80 nos protocolos da Specialty Coffee Association (SCA).
Sebrae apoia microtorrefação mineira
Segundo Ilma, a capacitação foi decisiva para o sucesso da marca. “O Sebrae Minas é grande parceiro. O curso de torra abriu novos horizontes e fortaleceu nossa conexão com a Região Vulcânica”, conta. Ela participa do espaço Village Sebrae, na Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, onde pequenos torrefadores apresentam seus produtos e trocam experiências.
O analista do Sebrae Minas, Ivan Figueiredo, destaca o papel do terroir na expansão das microtorrefações. “Recentemente, cafés da Região Vulcânica alcançaram pontuações acima de 90 em concursos. Isso incentiva os produtores a investir na torra com o mesmo cuidado aplicado ao cultivo, buscando nuances sensoriais únicas e uma identidade própria para seus cafés”, afirma.
A expansão da microtorrefação em Minas Gerais mostra que os cafeicultores estão cada vez mais próximos do consumidor final, combinando técnica, origem e propósito em um modelo de negócio que une tradição e inovação.
Microtorrefação cresce 48% em Minas Gerais e atrai cafeicultores Divulgação Ilma Rosa Franco, cafeicultora em Campestre, no Sul de Minas
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