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Ex-pastor brasileiro é condenado na França por crimes sexuais contra menores da própria família

A sentença é de 15 anos de prisão. ‘Não pegou pena máxima, mas estamos satisfeitos’, disse a ex-mulher de Edi M.

Ex-pastor brasileiro é condenado na França por crimes sexuais contra menores da própria família
Ex-pastor brasileiro é condenado na França por crimes sexuais contra menores da própria família
Foto: Divulgação/Ministério da Justiça da França
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O ex-pastor brasileiro Edi M. D. S. S. foi condenado nesta sexta-feira 7 em Annecy, nos Alpes Franceses, a 15 anos de prisão por oito crimes sexuais contra menores. Todas as vítimas tinham parentesco com ele. A Justiça também condenou o réu a pagar indenizações às vítimas e a não se aproximar delas por um período de dez anos, após a sua libertação, quando ainda deverá seguir tratamento psicológico.

Neste quinto e último dia de julgamento, o réu foi ouvido mais uma vez pelos juízes do caso. Ele assumiu ter agredido sexualmente uma das jovens e, conforme explicou no tribunal, em audiência pública, “teve uma história de amor com uma sobrinha”, ainda criança na época.

Porém, os magistrados o consideraram culpado por estupro e agressões sexuais com incesto de uma enteada, além de três estupros e quatro agressões sexuais contra primas e sobrinhas.

“Hoje foi um dia muito emocionante, muito feliz e reconfortante. Ele não pegou pena máxima, que seria de 20 anos, mas estamos satisfeitos”, disse à RFI Mayra Angela Silveira Vieira, ex-mulher de Edi M. e mãe de uma das vítimas. Os abusos começaram quando a menina tinha cinco anos e duraram cerca de uma década. “O sentimento que temos é de alívio porque as vítimas foram apontadas como mentirosas no julgamento. Agora temos credibilidade, depois da condenação”, disse. “Choramos de alegria, mas sabemos que muitas outras vítimas não têm essa chance”, continuou. “Valeu a pena eu ter entregado o pai dos meus filhos para ser preso”, concluiu.

Edi M. D. S. S. atuou como pastor em Annemasse, uma pequena cidade francesa na fronteira com a Suíça. Natural de Belém do Pará, estava preso preventivamente por decisão do Tribunal de Annecy, no sudeste da França, desde maio de 2022.

“Graças a Deus, ele foi reconhecido culpado pelas oito vítimas”, comemorou Frédéric Fabrice Cordeiro Brasil, pai de duas vítimas e tio de uma delas. “Sentimos um alívio enorme. Um peso enorme foi retirado da nossa mente, do nosso peito. O nosso nome foi lavado. O nosso nome foi honrado”, disse em entrevista à RFI após o anúncio da sentença.

As filhas dele tinham 4 e 5 anos de idade quando os abusos começaram. 

RFI conversou com as duas, hoje adultas. “A gente vivia em um estúdio, e o meu tio dormia na mesma cama que eu. Todas as noites, eu acordava com a mão dele dentro da minha calcinha”, revelou Kissia.

“Enquanto os outros dormiam, eu fui ao banheiro, e Edi M. me seguiu. Eu pedi a ele que me ajudasse, e ele pediu que eu me virasse de costas. Então começou a me tocar de forma estranha nas partes íntimas. Foi desagradável, mas, aos 4 anos, eu não sabia o que estava acontecendo”, relatou a irmã mais nova, Victoria.

Ela passou por exames psicológicos que comprovaram que, mesmo muito pequena, tinha lembranças do caso.

Réu alegou amnésia

Questionado pela Promotoria, Edi M. disse que não lembrava dos fatos e alegou que sofria de amnésia. Porém, laudos da perícia apresentados no tribunal afastaram esse argumento, comprovando que ele não lembrava voluntariamente apenas desses acontecimentos.

Ao menos oito pessoas prestaram queixa à Justiça francesa, relatando terem sido agredidas por ele ao longo dos últimos 20 anos.

Camila dos Santos Silva é sobrinha de Edi M. Ela também era uma criança quando começaram as agressões. Segundo contou à RFI, “as relações sexuais com penetração” iniciaram quando ela tinha cerca de 12 anos.

“O meu maior medo era que acontecesse a mesma coisa, principalmente com a minha filha”, disse a jovem, que hoje é casada e mãe de um casal. “Ele diz que eu comecei a me apaixonar por ele e, para evitar problemas, foi embora para o Brasil. Mas isso é mentira”, segue Camila. “Na verdade, ele foi para o Brasil porque eu fui denunciá-lo à polícia, e teve medo de ser preso”, continuou.

“Fiquei revoltada por ele ter assumido que teve relações comigo, mas não vi o seu arrependimento. Para mim, foram desculpas da boca para fora”, disse à RFI.

O ex-pastor ficará preso na França, onde tem dez dias para recorrer da sentença. O nome dele ficará inscrito no registro de criminosos sexuais franceses e ele está proibido de trabalhar com crianças.

De acordo com Sylvie Correia, advogada das vítimas, “elas estão contentes com esta decisão porque tiveram sua palavra levada em conta”. Segundo ela, “foi um grande alívio para as vítimas, porque elas sabem que terão paz durante alguns anos, principalmente as que ainda têm crianças em casa e estavam preocupadas com os filhos menores”.

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