Política
Lula lança em Belém fundo para proteger florestas tropicais
A maior parte das florestas primárias está nos países tropicais mais pobres, onde é mais rentável desmatar do que preservar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, nesta quinta-feira 6, um fundo para proteger as florestas tropicais do planeta, como a Amazônia, no primeiro dia da cúpula de líderes prévia à conferência climática da ONU, a COP30, em Belém.
Esse fundo de investimentos, que tem a ambição de captar 125 bilhões de dólares (668 bilhões de reais, na cotação atual) junto a governos e investidores privados, será um dos “um dos principais resultados concretos” da COP30 no combate às mudanças climáticas, disse Lula.
Após o lançamento oficial deste instrumento, chamado Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês para Tropical Forests Forever Facility), a Noruega anunciou a intenção de investir 3 bilhões de dólares (16 bilhões de reais).
É “vital frear o desmatamento para reduzir os impactos das mudanças climáticas”, disse o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, citado em um comunicado oficial.
A Noruega se posiciona assim como o principal investidor até agora, embora o seu apoio esteja sujeito ao cumprimento de certas condições.
Brasil e Indonésia anunciaram aportes de 1 bilhão de dólares (5,34 bilhões de reais) cada um, segundo o anfitrião, enquanto a França se comprometeu com 575 milhões de dólares (3 bilhões de reais) e Portugal com cerca de 1,15 milhão (6,14 milhões), segundo seus respectivos governos.
O governo brasileiro disse esperar que a Alemanha também anuncie contribuições na sexta-feira.
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com os anúncios desta quinta, “já superamos 50% daquilo que nós imaginamos para o final do ano que vem”, cerca de 10 bilhões de dólares (53 bilhões de reais).
Os recursos serão investidos nos mercados e seus rendimentos permitirão repassar a cada ano aos países em desenvolvimento uma quantia em dinheiro por cada hectare de floresta preservado, um poderoso fator de mitigação das mudanças climáticas e reserva de biodiversidade.
As florestas absorvem gases do efeito estufa que provocam o aquecimento global.
A maior parte está em países tropicais em desenvolvimento, onde hoje é mais lucrativo cortar árvores para atividades como a agricultura ou a mineração do que preservá-las.
Após o pagamento de juros aos investidores, os lucros serão repassados aos países tropicais que tenham taxas de desmatamento próximas de zero, mediante verificação por satélite.
Países como Brasil, Colômbia, Indonésia e República Democrática do Congo podem receber centenas de milhões de dólares por ano.
Isso serviria de incentivo para que outros países incrementem seus esforços, segundo especialistas consultados pela AFP.
Em muitos casos, o montante potencial dos pagamentos duplicaria ou triplicaria os valores com os quais governos e doadores internacionais contribuem atualmente para a conservação florestal.
‘Ponto de inflexão’
Os compromissos anunciados com o TFFF “marcam um ponto de inflexão para a conservação global e um exemplo a ser seguido por outras nações desenvolvidas”, comemorou Mauricio Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional Brasil.
No entanto, alguns países que apoiam a iniciativa informaram que, por ora, não vão aportar recursos.
O governo britânico, que participou da criação do TFFF, indicou que não vai financiá-lo diretamente.
Uma fonte da delegação de Finlândia disse à AFP que dá “apoio político” ao fundo, mas é “difícil encontrar novos recursos” em um momento de restrições orçamentárias a nível mundial.
Mas “as cosas podem mudar, esse é um projeto de longo prazo”, afirmou à AFP o embaixador Mauricio Lyrio, negociador-chefe do Brasil na COP.
Segundo Lyrio, 53 países firmaram até agora a iniciativa como “potenciais investidores”.
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