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Memória/ O som de Minas

Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morre aos 73 anos

Memória/ O som de Minas
Memória/ O som de Minas
Parceiro de Milton Nascimento, sempre foi reverenciado por seus pares – Imagem: João Diniz
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Lô Borges, um dos criadores do Clube da Esquina, que marcou a história da música popular brasileira, morreu no domingo 2, aos 73 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O cantor e compositor estava internado desde 17 de outubro em um hospital particular de Belo Horizonte por causa de uma intoxicação medicamentosa.

Ao lado do irmão, Márcio Borges, e de ­Milton Nascimento, Lô Borges ajudou a forjar um tipo de melodia que soava então inovadora e que teve como marco o lançamento
do álbum duplo Clube da Esquina (1972). Então com 19 anos, Lô Borges era o coautor de canções do disco que, passadas cinco décadas, seguem a fazer parte do
repertório nacional, como O Trem Azul e Um Girassol da Cor do Seu Cabelo. Sua voz suave, que se contrapunha ao timbre marcante e forte de Milton, também se tornaria uma referência de algo que passou a ser reconhecido como o “som de Minas”.

No mesmo ano, gravou seu primeiro trabalho solo, Disco do Tênis, em que flerta com o rock psicodélico. O álbum traz outra de suas composições eternas: Paisagem na Janela. À juventude brilhante seguiu-se uma carreira discreta, mas sempre reverenciada pelo público e por seus pares.

Ofensa nas alturas

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina condenou o empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, a pagar 33 mil reais ao presidente Lula por danos morais. No verão de 2019 para 2020, Hang financiou aviões que sobrevoaram praias catarinenses exibindo faixas com frases ofensivas, como “Lula cachaceiro devolve meu dinheiro”, “Melhor que o verão é o Lula na prisão” e “Lula enjaulado é Brasil acordado”. À época, o petista havia acabado de deixar a prisão em Curitiba. O relator do caso, desembargador Flávio André Paz de Brum, afirmou que os ataques “não tiveram qualquer interesse público” e concluiu: “Liberdade de expressão não é absoluta”.

Roraima/ Conflito de interesses

andré Mendonça suspende julgamento de governador após contrato

O instituto do magistrado vai ministrar cursos para servidores – Imagem: Carlos Alves Moura/STF

O ministro André Mendonça, que integra o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, apresentou dois pedidos de vista e interrompeu o julgamento da ação que pode levar à cassação do governador de Roraima, Antonio ­Denarium (PP). As suspensões ocorreram seis meses após uma empresa de ensino privado fundada por Mendonça firmar contrato de 273 mil reais com a administração roraimense, revelou o jornal O Globo.

Denarium é acusado de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022 por, entre outras práticas vedadas, distribuir cestas básicas, ampliar gastos com publicidade e reformar casas de eleitores. Em agosto, a relatora do processo no TSE, Isabel Gallotti, votou pela cassação do mandato. No mesmo dia, Mendonça pediu vista e paralisou o julgamento, renovando o pedido no fim de setembro. Ainda restam cinco ministros para votar, o que pode adiar o desfecho do caso para 2026.

Mendonça é fundador do Instituto Iter, contratado pelo governo de Roraima, em fevereiro, para ministrar cursos a servidores estaduais. Naquele mês, Denarium já havia apresentado recursos ao TSE.

EUA/ New York, New York

Mamdani é a resposta a Trump da mais cosmopolita cidade do país

Migrante, muçulmano e considerado comunista – Imagem: Charly Tribelleau/AFP

Os eleitores nova-iorquinos não se intimidaram diante das bravatas de Donald Trump. Na terça-feira 4, em resposta às ­ameaças de corte de recursos federais e de envio da Guarda Nacional pelo republicano, elegeram como prefeito o jovem e carismático democrata Zohran Mamdani, símbolo de tudo que a Casa Branca busca combater. Imigrante nascido em Uganda, muçulmano e defensor de ideias consideradas perigosamente comunistas nos Estados Unidos, entre elas a adoção da tarifa zero nos transportes públicos, o novo alcaide fez da diversidade um trunfo de campanha e colheu uma vitória memorável e inconteste, um alento para uma oposição sem rumo e limitada até então às notas de repúdio. “Esta noite vocês deram um mandato pela mudança, um mandato por um novo tipo de política, um mandato por uma cidade que possamos pagar”, discursou na noite da vitória. “Nova York continuará a ser uma cidade de imigrantes, construída por imigrantes, movida por imigrantes (…) Se há uma cidade capaz de mostrar ao mundo que outro futuro é possível, essa cidade é Nova York.”

Relações suspensas

O governo peruano anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o México, após a concessão de asilo à ex-primeira-ministra Betssy Chávez, processada pela tentativa de golpe de Estado em dezembro de 2022 do ­ex-presidente Pedro Castillo, atualmente preso. Em nota, o Peru classificou o asilo político de “ato inamistoso”. O chanceler Hugo De Zela foi mais longe: “Tentaram transformar os autores da tentativa de golpe em vítimas, quando a realidade mostra que nós, peruanos, vivemos em democracia, como reconhecem todos os países do mundo, com a única e solitária exceção do México”.

Obituário/ A semente do mal

O mundo colhe atualmente o que Dick Cheney plantou

Arquiteto da “Guerra ao Terror”, homem de negócios no poder – Imagem: David Bohrer/Governo dos EUA

Muito se falou e muito se falará nos próximos dias sobre Dick Cheney, morto na terça-feira 4 aos 84 anos. Nenhum perfil será, no entanto, mais preciso e devastador do que o retrato no filme Vice, de 2018. Christian Bale incorporou física e mentalmente o republicano que serviu de maneira denodada e feroz aos piores governos norte-americanos antes da era Trump, a começar por Richard Nixon. E teve no colega Sam Rockwell, um George W. Bush parvo e inseguro, um parceiro à altura. Eleito vice-presidente na chapa de Bush Jr. em 2000 e 2004, Cheney, depois do ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, tornou-se o governante de fato. Arquiteto da “Guerra ao Terror”, comandou a invasão ao Iraque sob o falso pretexto das “armas de destruição em massa” em poder de Saddam ­Hussein e desencadeou um efeito dominó no Oriente Médio. O resto é história. Empreiteiras e multinacionais de defesa dos EUA lucraram horrores com a partilha do território. Do mesmo caos nasceu, porém, o Estado Islâmico e grupos dissidentes da Al-Qaeda. O flagelo inflou a migração, principalmente em direção à Europa. O drama migratório reacendeu a xenofobia e deu azo ao crescimento da extrema-direita europeia. Em terra natal, Cheney abriu as portas para a submissão do Partido Republicano ao radicalismo trumpista, embora sua filha, Liz, tenha se oposto ao magnata. O mundo colhe a semente plantada por Cheney.

Publicado na edição n° 1387 de CartaCapital, em 12 de Novembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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