

Opinião
Volks flex
A montadora alemã mergulha no mercado de elétricos e híbridos
A Volkswagen demorou, mas resolveu encarar de frente a briga no mercado de elétricos e híbridos. A montadora prepara para 2026 uma geração de veículos produzidos no Brasil. A estratégia é começar com os híbridos, considerados pela fabricante mais adequados a uma fase de transição e de aderência dos consumidores. O plano faz parte de um investimento de cerca de 20 bilhões de reais na América do Sul até 2028, voltado ao desenvolvimento de motores híbridos, elétricos e novas plataformas de produção.
A Volkswagen considera que o consumidor brasileiro ainda tem vínculos fortes com os motores a combustão e por isso o foco em híbridos flex, que combinam o motor elétrico e a possibilidade de rodar com gasolina ou etanol. A combinação com o combustível de origem vegetal com o motor elétrico é considerada uma vantagem estratégica no campo da sustentabilidade e por gerar a possibilidade de opção pelo usuário, que pode escolher o combustível a partir do preço.
Entre os primeiros modelos cotados para receber a nova tecnologia estão o T-Cross e o Nivus, dois dos SUVs compactos mais vendidos da marca no País. A VW também estuda versões híbridas de veículos de entrada e, em etapas posteriores, sistemas híbridos plug-in, com recarga externa.
O objetivo é oferecer carros mais eficientes e com preços competitivos, capazes de se posicionar entre os modelos convencionais e os elétricos puros, ainda caros para a maioria dos consumidores. Caso consiga equilibrar custo e desempenho, a Volkswagen poderá abrir espaço para uma nova categoria de híbridos “populares”, produzidos nacionalmente e voltados à realidade do mercado brasileiro.
Gosto amargo
A Campari, gigante italiana de bebidas, viu suas ações caírem após autoridades fiscais italianas terem apreendido quase 1,3 bilhão de euros em ações da Lagfin SCA, holding controladora do grupo. A medida faz parte de uma investigação sobre suposta evasão fiscal relacionada à “exit tax”, tributo devido pela mudança da sede da Lagfin de Luxemburgo para os Países Baixos em 2020.
A Lagfin nega irregularidades e afirma que a apreensão não afeta o controle da Campari. A empresa, por sua vez, ressaltou não estar envolvida no processo e que suas operações seguem normais. Ainda assim, o mercado reagiu negativamente, com queda de perto de 5% nas ações. Fundada em 1860, a Campari é dona de marcas como Aperol e SKYY Vodka, além do bitter mundialmente conhecido que dá nome à empresa. A companhia encerrou o ano de 2024 com faturamento de 3,07 bilhões de euros, em torno de 16,5 bilhões de reais, crescimento de 2,4% em relação ao ano anterior.
Cashback
O cashback previsto na reforma tributária pode gerar ganhos importantes para a população mais pobre. O mecanismo funcionará como uma devolução parcial de tributos pagos, uma espécie de “dinheiro de volta” para famílias registradas no CadÚnico, com renda de até meio salário mínimo por integrante.
Na prática, os tributos federais e estaduais que compõem o novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) serão cobrados normalmente, mas uma parte será devolvida diretamente ao consumidor, na faixa de renda determinada. Em alguns casos, como contas de luz, água, gás e telecomunicações, a devolução poderá chegar a 100% do valor pago em tributos.
O impacto desse dinheiro no consumo tem potencial para ser um dos fatores a mexer no ponteiro de compras. Algumas estimativas falam em aumento de 10%, em média, na renda da população mais pobre, o que pode ser revertido no consumo de, especialmente, produtos da cesta básica.
Batata frita
A canadense McCain Foods, maior produtora mundial de batatas fritas congeladas, investirá 1,8 bilhão de reais na ampliação da fábrica em Araxá, Minas Gerais. É o maior aporte da empresa no Brasil. A expansão incluirá novas linhas de batatas e produtos pré-formados, além de câmaras frias e silos de armazenamento, com previsão de operação em 2027. A McCain entrou no País em 1992 e consolidou presença ao comprar 49% da Forno de Minas, em 2018, assumindo o controle total em 2023. Com a aquisição, a empresa moldou sua estratégia de logística fria e ganho de importância no varejo, o que significou maior exposição da marca. O grupo fatura cerca de 14 bilhões de dólares canadenses e atua em mais de 160 países. No Brasil, o investimento deve gerar mais de 350 empregos diretos e mil indiretos, fortalecer fornecedores agrícolas e reduzir importações. •
Publicado na edição n° 1387 de CartaCapital, em 12 de novembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Volks flex’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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