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França ativa procedimento para suspender a plataforma Shein

A empresa sofre pressão no país por vender bonecas sexuais com aparência infantil

França ativa procedimento para suspender a plataforma Shein
França ativa procedimento para suspender a plataforma Shein
Loja da Shein em shopping no centro de Pari, em 3 de novembro de 2025. Foto: Julie Sebadelha/AFP
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A França anunciou, nesta quarta-feira 5, que iniciou o procedimento de suspensão da plataforma de comércio eletrônico Shein em seu território, poucas horas depois de a gigante asiática inaugurar sua primeira loja física permanente no mundo, em Paris.

A empresa, fundada na China em 2012 e atualmente sediada em Singapura, vem sofrendo pressão na França há dias por vender bonecas sexuais com aparência infantil, uma prática que é investigada pela Justiça.

“O governo inicia o procedimento de suspensão da Shein, dando à plataforma tempo para demonstrar às autoridades públicas que todo o seu conteúdo está finalmente em conformidade com nossas leis e regulamentos”, anunciaram as autoridades francesas em um comunicado.

Segundo o Ministério da Economia, a empresa tem um prazo de 48 horas para retirar os produtos “proibidos”, caso contrário as autoridades poderão ordenar uma “requisição digital” que permita ao governo “exigir a suspensão do site na internet”.

A empresa disse tomar nota da decisão e reiterou que suas “prioridades absolutas” eram a “segurança” de seus clientes e a “integridade” de seu “marketplace”, onde vendedores terceirizados podem oferecer seus produtos online.

A plataforma expressou seu desejo de conversar rapidamente com as autoridades para responder às suas preocupações e anunciou também que suspenderá seu “marketplace” na França, após o escândalo das bonecas sexuais.

A empresa já recebeu neste ano na França três multas no total de 191 milhões de euros (1,17 bilhão de reais), por descumprimento da legislação sobre “cookies”, promoções falsas, informações enganosas e por não declarar microfibras plásticas.

“Os tempos mudaram”

Em um exemplo da pressão, a abertura de sua primeira loja física permanente nos históricos grandes magazines BHV, no centro de Paris, foi realizada nesta quarta-feira sob um importante esquema policial.

No entanto, o escândalo não impediu que centenas de pessoas fizessem fila horas antes para serem as primeiras a entrar no espaço Shein, de mais de 1.000 m², seja por curiosidade ou convencidas por uma marca que consideram acessível.

“Os tempos mudaram, as gerações mudaram”, afirmou à AFP Mohamed Joullanar, um jovem de 30 anos que já compra na Shein online e que não contava entrar um dia no BHV, conhecido como “caro”.

Mas alguns, como Hammani Souhaila, saíram decepcionados. Os produtos vendidos na loja eram “mais caros do que online”, afirmou a mulher que, mesmo assim, comprou uma camiseta por 16,49 euros (102 reais) para sua filha de 17 anos.

A inauguração também foi marcada por protestos nas proximidades de ativistas pelos direitos das crianças: “Protejam as crianças, não à Shein”, dizia um dos cartazes.

A Shein enfrenta críticas pelas condições de trabalho em suas fábricas e pelo impacto ambiental de seu modelo de negócios de moda ultrarrápida (‘fast-fashion’), às quais se somou recentemente a controvérsia pela venda em sua plataforma de bonecas sexuais com aparência infantil.

“Hipocrisia”

O Ministério Público de Paris abriu investigações contra a Shein, assim como contra os concorrentes online AliExpress, Temu e Wish, centradas na “disseminação de mensagens violentas, pornográficas ou contrárias à dignidade acessíveis a menores”.

A imprensa francesa publicou uma foto de uma das bonecas vendidas na plataforma, acompanhada de uma legenda explicitamente sexual. Ela tem cerca de 80 centímetros de altura e segura um urso de pelúcia.

A Shein se comprometeu a “cooperar plenamente” com a Justiça e anunciou que está impondo uma proibição a todas as bonecas sexuais.

No entanto, o ministro do Interior, Laurent Nuñez, pediu paralelamente à Justiça, nesta quarta-feira, o bloqueio do site na internet, onde também foi apontada a presença de facões e socos-ingleses.

Frédéric Merlin, o diretor de 34 anos da empresa SGM, que opera o BHV, admitiu que considerou cancelar a parceria com a Shein após o último escândalo, mas depois mudou de ideia. A companhia “tem 25 milhões de clientes na França”, destacou nesta quarta-feira.

Merlin disse confiar nos produtos que a Shein venderá em sua loja e denunciou uma “hipocrisia geral” em torno da gigante asiática, cuja chegada provocou a saída de algumas marcas desses grandes magazines.

As empresas tradicionais de moda varejista temem acabar fechando as portas devido à ascensão meteórica da Shein, que planeja abrir outras lojas na França.

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