Do Micro Ao Macro
Fraude digital quebra empresa de saúde e expõe fragilidade das PMEs
Estudo da IBM Security sobre fraude digital indica que 62% dos ataques e atingem pequenas e médias empresas com menor capacidade de defesa
A fraude digital deixou de ser um problema pontual e passou a representar um risco financeiro real para empresas de todos os setores. No caso da Saúde Sim, operadora de planos populares que chegou a atender 72 mil pessoas e faturar R$ 120 milhões por ano, golpes sucessivos foram determinantes para o encerramento das atividades.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e da consultoria EY, as perdas causadas por fraudes e golpes no setor de saúde chegaram a R$ 34 bilhões em 2023. O dado ajuda a dimensionar o impacto econômico de crimes digitais em companhias que, em muitos casos, não possuem estrutura tecnológica para se defender.
PMEs na mira dos golpistas
O relatório IBM Security 2023 mostra que 62% dos ataques cibernéticos se concentram em pequenas e médias empresas, justamente por apresentarem menor nível de proteção digital. As grandes corporações, por outro lado, costumam investir mais em camadas de segurança, o que torna suas operações menos vulneráveis.
Segundo Bruno Araújo, ex-diretor de Operações da Saúde Sim, a fraude foi um dos fatores que inviabilizaram a continuidade da empresa. “Detectamos adulterações em registros de pacientes oncológicos para aumentar o faturamento em medicamentos e até uso indevido de planos por irmãos gêmeos. A sustentabilidade financeira foi corroída gradualmente por esses golpes”, afirmou no documentário A Nova Economia do Engano, produzido pela Prosa.
Para ele, o problema ultrapassa a questão operacional. “Quando a confiança é quebrada, cada fatura passa a ser questionada, e o prejuízo se espalha por toda a cadeia”, disse Araújo.
O avanço da fraude digital
De acordo com Ergon Cugler, pesquisador do Laboratório DesinfoPop da FGV, a fraude digital se profissionalizou e se expandiu com o uso de plataformas online. “Hoje é possível encontrar bots programados para vender medicamentos falsos, emitir atestados e simular serviços legítimos. Somente no Telegram, os anúncios desse tipo cresceram mais de 20 vezes desde 2018”, explica.
Essas comunidades digitais ampliaram o alcance das fraudes, que passaram a ser praticadas em larga escala. “De transações pontuais, passamos a ver redes organizadas que comercializam produtos e serviços falsos para grandes públicos”, acrescenta Cugler.
Estratégias de defesa digital
Para Marcelo Sousa, vice-presidente de Produto da Caf, a fraude digital se comporta como um vazamento de água: “A mancha pode aparecer em um ponto, mas a origem está em outro — muitas vezes em uma integração ou vazamento de dados”.
Ele destaca que o combate a esses crimes exige monitoramento contínuo, uso de dados e autenticação silenciosa para detectar riscos antecipadamente. Segundo Sousa, a atuação das quadrilhas é cada vez mais coordenada. “Esses grupos compartilham métodos e exploram falhas em escala, um modelo conhecido como Fraud as a Service.”
Por isso, afirma, as empresas precisam adotar ecossistemas de proteção igualmente conectados, capazes de reagir à fraude digital com rapidez e inteligência. “Proteger o negócio é investir em sistemas antifraude antes que pequenos vazamentos comprometam toda a estrutura.”
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