Do Micro Ao Macro
Black Friday expõe novo risco no varejo, a autofraude
Golpe praticado por consumidores com dados reais desafia sistemas de crédito e exige novas estratégias de prevenção no e-commerce
A Black Friday e o Natal, períodos de maior volume de vendas do varejo, se tornaram também o momento mais sensível para um tipo de fraude difícil de detectar: a autofraude. O golpe é praticado por consumidores que utilizam seus próprios dados reais — nome, CPF e informações bancárias — para obter vantagens indevidas, como compras sem intenção de pagamento, estornos abusivos, falsificação de renda ou manipulação de cashback e promoções.
Segundo a Serasa Experian, o Brasil registrou quase 3,5 milhões de tentativas de fraude no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 22,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Embora o foco das empresas ainda esteja voltado aos ataques externos, cresce o desafio interno representado por consumidores de má-fé, que exploram falhas de verificação e políticas de benefício.
Impacto direto nas margens do e-commerce
A Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (ABIACOM) estima que a Black Friday 2025 deve movimentar R$ 13,34 bilhões, alta de 14,74% sobre 2024. O crescimento reforça o apetite do consumidor, mas amplia a exposição a práticas fraudulentas.
Especialistas alertam que, por envolver dados legítimos, a autofraude tende a escapar dos mecanismos tradicionais de verificação. Em muitos casos, só é identificada após prejuízos acumulados, impactando margens de lucro e a confiança dos lojistas.
A importância da análise preditiva
De acordo com Ricardo Wodianer, gestor de Customer Success and Growth na Provenir, o varejo precisa adotar tecnologias de decisão inteligente e análise de comportamento para enfrentar o problema. “A autofraude é um risco invisível, mas com efeitos concretos. Ela exige que o varejo vá além da análise de crédito tradicional e adote uma abordagem preditiva e inteligente para proteger suas operações”, afirma.
Ferramentas de machine learning, análise em tempo real e inteligência comportamental são capazes de identificar padrões atípicos, como compras repetidas com estorno, inconsistências entre renda e perfil declarado, ou uso excessivo de promoções. Com modelos preditivos, é possível bloquear transações de risco antes que causem perdas financeiras.
Mudança de mentalidade no combate à fraude
Segundo Wodianer, tratar a autofraude como simples inadimplência é um erro estratégico. “Ela não é dívida incobrável, é fraude de fato. E tratá-la como risco de crédito é desistir de proteger empresas e consumidores legítimos”, afirma.
O especialista reforça que o setor já dispõe de dados e tecnologia suficientes para enfrentar o problema. O desafio está em reconhecer que os “bons clientes” também podem gerar custos ocultos. “A mudança de mentalidade é o primeiro passo. O varejo precisa unir dados, tecnologia e inteligência de decisão para conter uma fraude que cresce silenciosamente, mas com impactos cada vez mais amplos.”
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