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Vereadora aciona MPF contra Arthur do Val por comentários sobre operação no Rio
Ação é após o ex-deputado afirmar que as mães dos mortos falharam e ‘não souberam escolher seus parceiros’


A vereadora de São Paulo Amanda Paschoal (PSOL) acionou, nesta sexta-feira 31, o Ministério Público Federal contra o ex-deputado Arthur do Val por suposta prática de racismo em comentários feitos sobre a megaoperação que deixou mais de 130 mortes no Rio de Janeiro. O caso envolve falas do youtuber durante uma transmissão ao vivo realizada na última quarta-feira.
Na ocasião, Do Val afirmou que as mães dos mortos falharam e “não souberam escolher seus parceiros”, dizendo que elas teriam escolhido o “famoso moreno alto com cara de bandido”. No vídeo, que já possui mais de 62 mil visualizações, ele também afirmou que não viu quase nenhum pai ao redor dos 70 corpos arrastados até a praça São Lucas, no Complexo da Penha.
“Cadê os pais desses caras? Cadê o pai do traficante que foi morto? Ou ele abandonou a família, ou está preso, ou está morto, ou você nem sabe quem é o cara”, disse. “Então, quem sacrificou o teu filho, quem sacrificou quase uma geração inteira de jovens periféricos do Rio de Janeiro, foram vocês, mães, que não souberam escolher seus parceiros e não souberam criar seus filhos.”
De acordo com a vereadora do PSOL, o discurso dele tem estereótipos raciais e culpabiliza mulheres negras e periféricas pela violência urbana, além de naturalizar a morte de jovens negros e legitimar ações policiais letais como a desta semana no Rio. O documento afirma também que a expressão “moreno alto com cara de bandido” perpetua o estereótipo que associa homens negros à criminalidade.
Além disso, destaca o fato de as afirmações terem sido dadas em plataforma monetizada, transformando “discurso de ódio em ativo econômico”. Na representação, Paschoal solicita que o MPF investigue o ex-parlamentar por incitação ao racismo e defende que Do Val e o canal do Youtube onde a live foi transmitida sejam condenados a pagar 100 mil reais em danos morais coletivos.
CartaCapital não conseguiu contato com o ex-deputado. Ao jornal Folha de S.Paulo, Do Val afirmou que não foi notificado da representação e disse considerar que, ao enviar o documento à imprensa, a vereadora “busca exposição, não combater o racismo”.
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