

Opinião
Novo calendário
As mudanças propostas pela CBF apontam para o caminho da morte lenta dos confrontos domésticos, já enfraquecidos
 
         
        Está aberta a temporada das decisões. E, à medida que o funil vai ficando mais estreito, com a bola em jogo, as equipes vão mostrando suas condições.
Isto vale não só para a disputa pela conquista de títulos, mas também para a ameaça de rebaixamento. Nesse contexto, alguns resultados inesperados deixam os torcedores instigados.
Casos como o do Fortaleza, que reacendeu depois de alguns tropeços e venceu o Flamengo, e o empate entre Cruzeiro e Palmeiras, esquentam ainda mais a reta final do Brasileirão nas duas pontas.
A esta altura, aliás, já vemos um problema clássico. Algumas equipes próximas de disputar mais de um campeonato com chances de títulos encontram-se na contingência de poupar jogadores por ter dois jogos decisivos numa mesma semana.
Acabam assim por sofrer reveses que podem comprometer uma temporada. É o famoso problema do calendário, tantas vezes aqui abordado.
E, falando nisso, ao mesmo tempo que o bicho pega em campo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cumprindo o anúncio do seu novo presidente, Samir Xaud, publicou as propostas de alterações do calendário do futebol profissional brasileiro a partir de janeiro de 2026.
Em relação às mudanças, a redução do número de datas reservadas aos campeonatos estaduais – que já era esperada – foi de 16 para 11. É a morte lenta dos confrontos domésticos, que vêm minguando com o passar do tempo.
Esses torneios sempre tiveram grande interesse pela proximidade geográfica dos contendores, mas parece que isso foi superado pelo interesse maior dos novos formatos de disputa e, principalmente, pelo interesse econômico.
Outra medida foi a diminuição do número de jogos pelas equipes de ponta e o aumento do número de times nas quatro divisões, compensando a expectativa dos clubes ascendentes pela criação de uma suposta Série E – de fato, um absurdo.
Foi o caso de ampliar o número de clubes na base (séries C e D) e limitar a quantidade daqueles que estão no topo. A maioria dos comentaristas acredita que é uma melhora, mas ainda distante da resolução definitiva dos problemas maiores do nosso futebol.
O calendário não é, porém, o único assunto quente. Em sintonia com essa mesma fase decisiva, outras duas questões prementes estão em debate: a da arbitragem e a dos casos de violência. O acirramento da questão da arbitragem com a proximidade do período de decisões parece ter chegado ao limite.
E as mudanças devem acontecer. Ganha força a opinião sobre a profissionalização dos árbitros, e as discussões tornam-se interessantes quando se comparam os níveis das arbitragens da Conmebol ou da Fifa com os das disputas nacionais.
Analistas da mídia lembram o fato curioso de que um mesmo árbitro se comporta de modo diferente quando atua numa disputa interna ou numa disputa internacional. Isso talvez aconteça pela diferença de condições dadas pelos órgãos responsáveis pelos campeonatos.
A pressão exercida sobre as arbitragens atinge pontos insustentáveis para os profissionais do apito, partindo tanto dos jogadores dentro do campo, com atitudes descabidas, quanto dos dirigentes. Não raro, essas atitudes servem apenas para justificar as derrotas de seus times.
Sobre isso, houve uma manifestação bastante oportuna de Cássio, ex-goleiro do Corinthians, hoje defendendo o Cruzeiro, assumindo a necessidade de colaboração também por parte dos jogadores envolvidos no clima de insegurança que fica instalado.
Estamos na iminência de fazer uma campanha por parte das associações de jogadores nesse sentido. Pessoalmente, vou sugerir essa proposta a entidades representativas dos jogadores – de uma delas faço parte, inclusive.
Saindo um pouco daqui, tenho achado curioso, no plano internacional, o momento atravessado pelo Real Madrid, bastante elucidativo do equilíbrio que faz do clube espanhol o maior vencedor.
O atacante brasileiro Vinícius Júnior, ficou revoltado ao ser substituído no meio do segundo tempo na partida contra o Barcelona, no domingo 26, configurando uma atitude destemperada para um profissional de uma das maiores equipes do planeta.
Ao contrário de escândalos e mais capítulos de novela que a situação previa, o clube tratou a questão como um caso comum entre o jogador e o técnico, mostrando mais uma vez o domínio que tem da administração de um clube de futebol.
Ficam as indagações curiosas. Estaria o clube preparando mais uma reformulação, como já sucedera em outras ocasiões, como na saída de Cristiano Ronaldo, ou simplesmente bancando o novo treinador?
Fato é que o Real prefere manter os interesses do poderoso clube que é acima das individualidades. •
Publicado na edição n° 1386 de CartaCapital, em 05 de novembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Novo calendário’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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