Opinião
E Dona Aranha era Gramsci
Quem diria? Ela, a deputada que só tem guirlanda na cabeça. A esperança vem de Ibiá, onde o gado luta pelos oprimidos
Olá, estas são as NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO! O semanário de bordo da nossa viagem na maionese. Os flatos que foram notícia no Brasil e no mundo. E vamos diretamente à nossa sucursal em Nárnia, onde Eduardo Bolsonaro (PL) faz importante pronunciamento à nação, quer dizer, ao universo paralelo.
“As pessoas têm que ser menos emocionadas, tão acreditando em narrativa da Globonews”, descascou o Banana. “Trump aperta a mão de todo mundo. Ele fala com Xi Jinping e depois bota mais de 100% de tarifa em cima de produto chinês. As sanções seguem, nenhum visto foi devolvido, a Magnitsky continua e toda reunião é preparação para a próxima reunião.” Banana Nanica está sem acesso ao Gardenal.
E ATENÇÃO! DENÚNCIA! DEPUTADA ACUSA GALINHA PINTADINHA DE APOLOGIA DO COMUNISMO. Júlia Zanata (PL), que só tem guirlanda na cabeça, sugeriu que a musiquinha do desenho animado seria, na verdade, UMA VERSÃO DE A INTERNACIONAL, O HINO COMUNISTA cuja melhor versão, diga-se, é a dos Garotos Podres.
Além disso, Zanata identificou na personagem DONA ARANHA o filósofo marxista italiano ANTONIO GRAMSCI, que Mino Carta tanto apreciava. “Tudo isso faz parte de um plano para atacar a família”, disse a deputada federal, que apresentou em suas redes uma alternativa ao galináceo “anticapitalista e a favor da União Soviética”: a “Galinha Armadinha”, com FUZIL, óculos e protetores de ouvidos usados pelos CACs.
serviço de UTILIDADE PÚBLICA! Em Belo Horizonte, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) acaba de sancionar o DIA MUNICIPAL DOS MÉTODOS NATURAIS, aqueles que costumam dar errado. O coito interrompido, assim como outras modalidades olímpicas para além do salto com vara, será agora celebrado todo dia 7 de julho. Damião já havia aprovado, também, o DIA MUNICIPAL DA FIDELIDADE CONJUGAL E DO CASAMENTO MONOGÂMICO CRISTÃO, a ser comemorado em 18 de maio.
METEOROLOGIA. ZÉ CHUVISCO DIZ QUE NÃO SE IMPORTA DE NÃO SER MAIS “TROVÃO”. O deputado federal Zé Chuvisco (PL), antes Zé Trovão, diz preferir “ser chamado de Zé Chuvisco do que ter seu nome em lista de empreiteiras como a Odebrecht”. A nova classificação do fenômeno meteorológico foi proposta pela base do governo que atua na CPMI do INSS. “Prefiro ser chamado de Zé Chuvisco”, prosseguiu Chuvisco, “do que estar envolvido em esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.”
COLUNA SOCIAL. O IBRAHIM SUED DO HOSPÍCIO! No dia 23, festejou-se o aniversário de 1.085 anos de Michel Temer, le golpiste de merde. “Essa é pra esse cara REVOLUCIONÁRIO”, declarou o CANTOR LATINO, antes de puxar um Parabéns Pra Você MISTURADO COM BEATBOX, aquela percussão dos rappers feita com a boca. Sorry, periferia… Uma tarde elegante em que marcaram presença vultos da sociedade Transilvânica. Ademã que eu vou em frente!
E pra fechar, aquela notícia que renova as esperanças ao fim de um telejornal. Uma cena rara, capaz de nos dizer que, sim, BOLSOMINIONS PODEM SER RECUPERADOS e levados a engrossar a luta dos oprimidos. Em Ibiá (MG), câmeras de segurança captaram o momento em que uma cabeça de gado invade o supermercado e PERSEGUE OS AÇOUGUEIROS. Ninguém saiu ferido.
THAT’S ALL, FOLKS! Voltamos a qualquer momento com novas informações. NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO nunca desliga. •
Jornalista, indicado ao Emmy Internacional com a série O Infiltrado. Autor dos livros O Atleticano Vai ao Paraíso e Bandido Raça Pura.
Publicado na edição n° 1386 de CartaCapital, em 05 de novembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘E Dona Aranha era Gramsci’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.