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Os construtores de mundos

Sobre a Ficção reúne um saboroso conjunto de conversas com dez autores contemporâneos que produzem literatura em português e espanhol

Os construtores de mundos
Os construtores de mundos
Ler e escrever. Viel faz perguntas aparentemente simples, das quais derivam tanto reflexões quanto descrições divertidas do cotidiano – Imagem: Ricardo Brant
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Por que a ficção é capaz de exercer tanto poder sobre nós? É em torno dessa pergunta que giram as conversas reunidas em Sobre a Ficção: Conversas com Romancistas, do jornalista ­Ricardo Viel. O livro é uma reunião de entrevistas com dez autores contemporâneos de língua portuguesa e espanhola.

Viel, leitor qualificado, conversou entre 2015 e 2020, em diferentes cidades de Portugal, com Rosa Montero, Javier Cercas, Dulce Maria Cardoso, Juan Gabriel Vásquez, Bernardo ­Carvalho, Valter Hugo Mãe, Mia Couto, ­Milton Hatoum, Tatiana Salem Levy e ­Djaimilia Pereira de Almeida.

O conjunto comprova que uma boa entrevista é, na maioria das vezes, uma boa conversa entre pessoas que partilham interesses comuns. E, como diz Rosa Montero, uma entrevista tem também algo de psicanálise.

As conversas nem são longas a ponto de interessar apenas a quem conhece os autores, nem tão curtas que não possam romper a camada da superficialidade. Elas partem de perguntas aparentemente simples, das quais derivam tanto reflexões quanto descrições divertidas do cotidiano. Um ponto comum a todos os textos são, naturalmente, as definições a respeito do que é a literatura.

Sobre a Ficção. Ricardo Viel. Companhia das Letras (176 págs., 89,90 reais)

Para Javier Cercas, ela é “uma forma de corrigir a realidade” e nos preparar para enfrentar melhor as adversidades. Para Walter Hugo Mãe, um colecionador de palavras, os livros são capazes de “preencher espaços vazios”. Para Milton Hatoum, a escrita é “uma forma de exílio”.

Outra pergunta que, embora não seja feita de forma direta, acaba por ser respondida, é onde nascem as histórias. Os escritores relatam manias, medos, obsessões e métodos – e, nisso, estão muitas vezes em polos opostos.

Rosa Montero escreve com mapas e bússolas. Walter Hugo isola-se a ponto de passar dias sem falar ao telefone ou responder e-mails. ­Djaimilia Pereira de Almeida tem objetos que, supostamente, pertencem a seus personagens.

A proximidade com a poesia, a busca por um meio de subsistência e volta à infância são outros elementos que se repetem aqui e ali. Das memórias de quando crianças os escritores trazem a relação profunda com os livros – seja pela presença, seja pela ausência, que tentavam suprir. Dulce ­Maria Cardoso, particularmente, lembra de ser chamada de mentirosa. Pudera, ela contava aos amigos, por exemplo, que tinha ido à Lua.

Ao inventar pessoas, sentimentos e mundos, o que todos os escritores parecem desejar, no fundo, é dar algum sentido à vida. Nisso, devem ser parecidos com quem os lê. •

Publicado na edição n° 1386 de CartaCapital, em 05 de novembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Os construtores de mundos’

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