Parlatório
No Facebook, fraude estimula ato anti-Dilma
Após atrair milhares de pessoas, evento contra Aécio Neves muda de nome e passa a defender o impeachment da petista


Uma fraude no Facebook está ajudando a divulgar o ato contra Dilma Rousseff e o PT. Para inflar o evento “16 de agosto eu vou pra rua #fora PT”, um ativista pró-impeachment valeu-se de um truque sujo. Primeiro, atraiu cerca de 67 mil usuários da rede com um suposto evento contra o PSDB e o senador tucano Aécio Neves (MG). Depois, trocou as imagens e o título. A armadilha fez com que centenas de eleitores petistas ou pessoas de perfil progressista aparecessem com presença confirmada no protesto.
Ao site SPressoSP, o criador do evento, Dennis Henrique Possani, confirmou que a atividade havia sido programada durante a eleição de 2014, e era originalmente contra o candidato presidencial do PSDB. Alega, porém, ter mudado de lado. E diz ter apresentado a possibilidade a outras pessoas de fazerem o mesmo. “Se houvesse algum problema, o próprio Facebook impediria a gente de mudar o nome do evento”.
Ramon Garcia-Fernandez, professor de Economia da Universidade Federal do ABC, é uma das vítimas do truque. “Jamais cogitei participar dessa manifestação e tampouco confirmei presença em ato algum. Não sei como eles conseguiram essa façanha”, afirmou a CartaCapital. De acordo com ele, diversos colegas também se surpreenderam ao notar que estavam entre os participantes do evento. “O perfil de um deles até ostenta a mensagem ‘democracia sim, golpe não’. Como ele poderia apoiar esses protestos?”
Para deixar clara a sua posição, o professor trocou a foto no Facebook pela mensagem “16/Agosto. Eu não vou”. “Nem vale a pena levar esse caso à Justiça. Só daria maior repercussão para essa molecagem”, diz. Outras vítimas decidiram criar um evento paralelo como antídoto à fraude, intitulado “Vamos denunciar o evento desonesto”.
Na página do evento, diversas pessoas que declinaram o “convite” manifestaram indignação.
“Esse episódio mostra que o objetivo de parte dos promotores da manifestação é derrubar o governo a qualquer custo, sem nenhuma consideração de ordem ética ou respeito à legalidade”, critica o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas.
“Diversos amigos caíram nessa armadilha. É um truque sujo, não muito diferente daqueles boatos que circularam às vésperas do segundo turno das eleições de 2014, quando inventaram que o doleiro Alberto Yousseff, delator da Lava Jato, havia sido envenenado na prisão. A diferença é que, agora, houve tempo para desmentir essa armação com certa antecedência”.
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