Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Arthur Nogueira canta Antonio Cicero com a intimidade de parceiro e fã
O cantor e compositor paraense reforça o legado do letrista, que optou pela morte assistida após diagnóstico de Alzheimer
O cantor, compositor e produtor paraense Arthur Nogueira notou durante a adolescência, remexendo nas estantes de discos de seu pai, que havia no Brasil uma forte ligação entre a poesia escrita e a canção. Antonio Cicero, percebeu à época, era um dos que transitavam com facilidade nos dois universos.
“Minha vida mudou quando descobri isso”, afirmou Nogueira em entrevista a CartaCapital.
Antonio Cicero se tornou famoso como letrista de canções de sucesso como Virgem e Fullgás (parceria com a irmã, Marina Lima), À Francesa (com Claudio Zoli), O Último Romântico (com Lulu Santos e Sérgio de Souza) e Inverno (com Adriana Calcanhoto).
Arthur Nogueira se tornou parceiro musical de Antonio Cicero, que se formou em Filosofia pela Universidade de Londres — embora também fosse um poeta. Nas duas modalidades, escreveu livros e virou um imortal da Academia Brasileira de Letras.
“No ano passado, quando ele optou por uma morte assistida na Suíça (faleceu em 23 de outubro, aos 79 anos), primeiro fiquei muito admirado pela coragem dele e pela coerência até o fim”, diz Nogueira. No fim da vida, o poeta sofria de Alzheimer.
O cantor afirma ter buscado uma maneira de manter viva a obra do parceiro. Assim nasceu Arthur Nogueira canta Antonio Cicero: Embarque para Citera, um projeto musical que ele apresenta ao longo deste ano.
O espetáculo intimista, de voz, violão e guitarra, reúne canções de sucesso de Antonio Cicero e músicas da dupla, como Sem Medo nem Esperança, gravada por Gal Costa, e Consegui, por Fafá de Belém. Embarque de Citera se refere a uma obra do pintor francês Antoine Watteau mencionada na música Antigo Verão, um poema do filósofo musicado pelo paraense.
Cícero teve uma participação importante no último disco solo de Arthur Nogueira, Brasileiro Profundo (2022), compondo a faixa-título com o autor do álbum. Essa canção também é lembrada no espetáculo dedicado ao poeta-filósofo.
“É o show mais especial que fiz na vida. Não subo no palco triste. Na verdade, estou ali tanto para fortalecer a obra quanto a vida dele”, explica. “Entro sempre no palco com muito orgulho de ter feito parte dessa trajetória.”
A apresentação conta ainda com projeções de imagens de Antonio Cicero, montadas pelo cineasta Vitor Souza Lima.
As próximas apresentações de Arthur Nogueira com o projeto em homenagem a Antonio Cicero ocorrem em sua terra natal, Belém (PA), em 24 e 25 de outubro. Depois, ele vai a duas cidades do interior do estado: Bragança, em 29 de outubro, e Altamira, em 29 de novembro.
Por ocasião da COP30, que acontecerá em novembro na capital paraense, Arthur Nogueira se envolveu na curadoria de um evento do Observatório do Clima que ocupará o Teatro Waldemar Henrique, em Belém, com rodas de conversas, apresentações musicais e espetáculos de dança.
Em 14 de novembro, dirigirá um espetáculo inédito de Fafá de Belém na COP30 com compositores da canção amazônica.
“Este é o momento para nós, que nascemos na Amazônia, levantarmos nossa voz para dizer quem somos”, defende. “As pessoas que vieram para cá devem vir de ouvidos e olhos abertos, porque aqui tem diferentes expressões e modos de vida que são muitos especiais e desconhecidos.”
Assista à entrevista de Arthur Nogueira a CartaCapital:
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