Do Micro Ao Macro
Saúde mental já supera doenças crônicas entre profissionais de tecnologia
Levantamento com mais de 80 mil trabalhadores indica que 54,6% das compras de medicamentos no setor de TI estão ligadas a transtornos mentais
O setor de tecnologia vive uma mudança significativa no perfil de saúde de seus trabalhadores. Um estudo realizado pela Vidalink mostra que os transtornos mentais já ultrapassaram as doenças crônicas como principal motivo de consumo de medicamentos entre profissionais da área.
No primeiro semestre de 2025, 54,58% das compras de remédios registradas no setor estiveram relacionadas à saúde mental.
O levantamento, intitulado “Uso de medicamentos por segmento 2025”, analisou o comportamento de compra de 80.138 pessoas em 179 empresas entre 1º de janeiro e 30 de junho.
A pesquisa avaliou cinco segmentos — Indústria, Serviços, Tecnologia, Varejo e Outros — e revelou que o cenário observado em tecnologia é o único em que os medicamentos para saúde mental superam os voltados às doenças crônicas.
Segundo a Vidalink, a depressão representa mais da metade das aquisições dentro da categoria, número que está mais de dez pontos percentuais acima dos demais setores. Para Luis Gonzalez, CEO e cofundador da empresa, o dado evidencia um alerta crescente.
“Com a tecnologia sendo a principal exceção entre os resultados, percebe-se um alerta sobre a crise de saúde mental entre profissionais de TI”, afirma Gonzalez.
Comparativo entre setores
Nos demais segmentos, o padrão ainda é o predomínio de doenças crônicas. Na Indústria, elas somam 57,53% das compras, com destaque para hipertensão (22,8%), dislipidemia (22,6%), DPOC/Asma (18,5%) e diabetes (14,5%). O perfil reflete uma população trabalhadora mais velha e exposta a fatores de risco relacionados ao estilo de vida.
No setor de Serviços, 55,64% das compras estão ligadas a doenças crônicas, enquanto 44,36% correspondem à saúde mental. Já no Varejo, 58,03% das aquisições seguem voltadas a tratamentos contínuos, e no grupo classificado como Outros, que inclui hotelaria, associações e entidades de classe, o índice chega a 59,9%.
“O varejo e especialmente a indústria mostram a importância de tratar o bem-estar corporativo como um tema que vai além dos escritórios e considera a pluralidade de desafios e necessidades”, explica Gonzalez.
Cultura de cuidado e prevenção
De acordo com o CEO, os resultados reforçam a necessidade de uma abordagem ampla e integrada de bem-estar dentro das empresas. Ele destaca que o cuidado com a saúde física e mental deve ser incorporado às estratégias organizacionais.
“É preciso ter uma visão holística do bem-estar para não cair em enviesamentos e tornar esses investimentos mais estratégicos, fortalecendo uma verdadeira cultura de cuidado em que as pessoas se sintam acolhidas”, afirma.
Continuidade do tratamento e impacto nas empresas
Gonzalez também ressalta que a interrupção de tratamentos por falta de recursos financeiros continua sendo uma das principais barreiras à recuperação. Ele defende que as empresas ofereçam planos de medicamentos subsidiados para garantir acesso e adesão aos tratamentos.
“O subsídio melhora a continuidade dos tratamentos e reduz a sinistralidade dos planos de saúde, além de diminuir os impactos do absenteísmo e do presenteísmo. Investir em políticas consistentes de bem-estar é investir na longevidade do negócio”, conclui.
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