Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Expectativa em campo

Agora que restam apenas dez rodadas para a definição do Brasileirão, começa a briga de foice entre os dois times líderes na tabela

Expectativa em campo
Expectativa em campo
Disputa entre Palmeiras e Flamengo termina com ânimos aquecidos. Foto: Wagner Meier
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A partida entre Flamengo e Palmeiras, no domingo 19, era aguardada com aquela expectativa de final antecipada. E, como já era de se esperar, não tinha como terminar diferente: qualquer que fosse o resultado, as acusações de arbitragem eram favas contadas.

O jogo no Maracanã apontava a possibilidade de ser uma final de fato, especialmente se o Palmeiras saísse vencedor, ou seja, a desconfiança estava no ar desde o apito inicial.

O placar final, com a vitória do Flamengo por 3 a 2, mostrou um duelo de altíssimo nível entre os dois principais candidatos à taça do Brasileirão 2025.

Infelizmente, o que era para ser um espetáculo vibrante acabou ficando em segundo plano, ofuscado pelas críticas de parte a parte.

O problema maior nisso tudo é a recorrência desses fatos. Sem que a gente perceba, essa situação vai, aos poucos, minando a confiança do torcedor.

Vale repetir o alerta do atento e saudoso João Saldanha, que dizia que, por puro descuido ou descaso, os “cartolas acabariam matando a galinha dos ovos de ouro” do nosso futebol.

A consequência é que, desconfiados de estar fazendo papel de “bobos da corte”, os torcedores podem ir se afastando dos estádios e saindo da frente da televisão.

Isso sem falar no alto custo de uma ida ao estádio e, o que é pior, as manifestações de violência que cercam as rodadas, dentro e fora de campo.

Mudando o foco, na rodada anterior, outros dois jogos também chamaram atenção.

O Santos, que vinha se recuperando sob a orientação serena do tranquilo Juan Pablo Vojvoda, perdeu em casa para o Vitória da Bahia – que vem fugindo das últimas colocações – por pura instabilidade emocional.

No caso do Fortaleza, não custa nos perguntarmos o que pode ter sucedido com o time. A equipe desandou de uma hora para outra de maneira radical, depois de um período brilhante que previa estabilidade. Será confusão na política interna do tricolor cearense?

Na segunda-feira 20 também teve jogo à noite, e o Vasco arrancou uma vitória importantíssima sobre o Fluminense. Com isso, o Vascão deixou de ser mais um ameaçado e passou a incomodar os times que disputam competições mais valorizadas, como a Libertadores, e por aí vai.

A vitória categórica fez o time de São Januário atravessar uma fronteira: passou de ameaçado a ser reconhecido como pretendente a aspirações maiores, não só pelos pontos em sequência, mas pelo bom futebol que vem apresentando.

Enquanto isso, o Mirassol, que não surpreende mais ninguém, vai se tornando o principal “penetra” na festa dos grandalhões.

Vale a pena acompanhar o belo e consistente trabalho do “caçulinha”, que acabou se desgarrando da campanha do Novo Horizontino, que vinha no mesmo caminho.

Um torcedor, inconformado com a movimentação de tantos estrangeiros nos clubes brasileiros, observou que o time do Mirassol não teria nenhum “importado”.

De vez em quando, volta e meia, se discute a convocação de um maior número de jogadores atuando no Brasil para a Seleção.

Estranho mesmo é a Seleção Brasileira apresentar jogadores completamente desconhecidos dos torcedores, e a carência de craques consagrados em posições fundamentais, como no meio de campo e entre os goleadores de ofício.

Entre os jogadores, a proximidade da Copa do Mundo causa motivação em alguns. É o caso de Pedro, do Flamengo, que vem abrindo caminho, e do jovem Rayan, que está sendo incentivado pelo técnico vascaíno, que defende uma oportunidade para o garoto.

Fernando Diniz, em seu admirável empenho de fazer os times que dirige seguirem a tradição histórica do futebol brasileiro, aposta numa breve convocação da revelação vascaína, que vem, a cada jogo, correspondendo às expectativas.

Ainda sobre os craques deste momento, continua se sobressaindo o rubro-negro Arrascaeta.

Ele tem um futebol clássico, lúcido, e joga com impressionante leveza em tempos de predomínio da força. Além de tudo, ainda é o atual artilheiro do Flamengo.

Agora, restam dez rodadas para a definição. Vai ser briga de foice entre os dois times que lideram o Brasileirão com folga.

Enquanto a bola rola, seguem as ­disputas no vôlei masculino e feminino e o Mundial de Ginástica Artística, com sua beleza emocionante. •

Publicado na edição n° 1385 de CartaCapital, em 29 de outubro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Expectativa em campo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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