Sustentabilidade
No Dia Mundial da Alimentação, Semiárido vira vitrine de soluções para crise climática
Congresso Brasileiro de Agroecologia marca promessa de 220 mil cisternas até 2026 e investimento de 75 milhões de reais em 600 organizações


Às margens do Velho Chico, em Juazeiro (BA), um ato público no Dia Mundial da Alimentação, na noite de quinta-feira 16, reuniu mais de 4 mil pessoas em defesa da agroecologia, apresentada como resposta à crise climática e ao avanço do ultraprocessado e do uso intensivo de agrotóxicos.
O semiárido brasileiro foi citado como laboratório de soluções para enfrentar eventos extremos, garantir soberania alimentar e assegurar o direito à terra, com justiça social e comida de verdade no prato.
O ato teve a presença dos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Márcio Macedo (Secretaria-Geral) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), que anunciaram medidas de fomento. Foi assinado o Ecofort, dentro da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), com apoio do Banco do Brasil e do BNDES: 75 milhões de reais para fortalecer mais de 600 organizações e alcançar mais de 15 mil pessoas.
“O Brasil tem alternativa para gerar alimento, saúde e solução ambiental”, disse Dias. “E tudo passa pela agroecologia.”
Também foi anunciado crédito do Pronaf para “quintais produtivos”, voltado a pequenos agricultores. Em gesto simbólico, a produtora de pimentão Maria do Carmo, de Juazeiro, assinou o contrato ao lado dos ministros e do Banco do Nordeste, agente financeiro do programa. Wellington Dias confirmou ainda o reforço da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e reiterou a meta de erradicar a fome: “Tiramos o Brasil do mapa da fome; agora queremos tirar a fome do mapa do Brasil.”
A cidade de Juazeiro (BA), no Vale do São Francisco, recebe a 13ª edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia (Foto: Dilvulgação)
Região mais afetada pela seca agravada por eventos extremos, o Semiárido já recebeu mais de 100 mil cisternas nesta gestão; a promessa é chegar a 220 mil até o fim do mandato, somando 1,7 bilhão de reais em investimentos. Presente ao ato, o representante da FAO no Brasil, Jorge Meza, elogiou a articulação internacional liderada por Lula e defendeu redes mais amplas para fortalecer a agroecologia: “A fome não é um problema só de quem está vulnerável; é de toda a sociedade.”
Participaram ainda o governador Jerônimo Rodrigues, parlamentares, o prefeito de Juazeiro, Andrei Gonçalves, e movimentos da sociedade civil. Para Leila Santana, da Vila Campesina, alimentação é direito humano — indissociável do acesso à terra. “Só é possível a agroecologia com território livre”, afirmou. O ato integrou a programação do Congresso Brasileiro de Agroecologia, realizado desde a quarta-feira 15 em Juazeiro, no Sertão do São Francisco, até sábado 20.
(A repórter viajou a convite da Articulação Semiárido Brasileiro).
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