Mundo
Governo do Peru deve impor estado de emergência em Lima após manifestações
Com a medida, o governo pode mobilizar os militares nas ruas para patrulhar e restringir direitos como a liberdade de reunião


O novo governo do Peru vai impor o estado de emergência em Lima para enfrentar o cenário de insegurança, após o grande protesto na capital contra o crime organizado e a classe política que terminou com uma pessoa morta em uma ação policial e mais de 100 feridos.
Na quarta-feira 15, Lima foi cenário dos confrontos mais graves desde o início das manifestações, mês passado, na capital peruana.
Os protestos são liderados pela Geração Z, um coletivo de jovens com idades entre 18 e 30 anos, em repúdio ao Congresso e ao governo de direita do presidente interino José Jeri, que tomou posse recentemente, após a destituição de Dina Boluarte.
A ex-presidente foi removida do cargo após um julgamento político expresso em 10 de outubro, motivado pela crise de violência.
Jerí, 38 anos e até então presidente do Parlamento, assumiu a presidência de forma interina até julho de 2026, quando deverá entregar o cargo após eleições gerais.
“Vamos anunciar a decisão de declarar emergência pelo menos na Lima Metropolitana”, disse à imprensa o chefe do gabinete Ernesto Álvarez, após uma reunião de ministros no palácio de Governo.
A medida afetará 10 milhões de pessoas que vivem na cidade e na cidade portuária vizinha de Callao.
Sob estado de emergência, o governo pode mobilizar os militares nas ruas para patrulhar e restringir direitos como a liberdade de reunião.
“Não foi descartado o toque de recolher (…) considerando que a criminalidade não respeita a noite”, afirmou Álvarez.
“Assassinato covarde”
Com velas, flores e cartazes contra Jerí, dezenas de jovens homenagearam na noite de quinta-feira 16 o falecido rapper Eduardo Ruiz, de 32 anos, conhecido como ‘Trvko’.
O artista morreu ao ser atingido por um tiro de um policial que agiu por conta própria e será afastado da força de segurança, anunciou o comandante da instituição, general Óscar Arriola.
O autor do disparo foi detido ao lado de outro policial. Os dois foram identificados pelas imagens gravadas nas câmeras de segurança da prefeitura de Lima. O agente apontado como culpado pelo homicídio foi hospitalizado após ser atacado pelos manifestantes.
Além da vítima fatal, a jornada de protestos de quarta-feira deixou 113 feridos: 84 policiais e 29 civis, segundo o balanço oficial.
Na quinta-feira, Jerí pediu ao Congresso “faculdades legislativas” que permitam enfrentar a crise de violência.
O presidente espera adotar medidas de urgência sem a necessidade de passar pela aprovação dos parlamentares.
“Queremos solicitar faculdades legislativas para legislar principalmente em temas de segurança cidadã (…) que é o principal problema”, disse o presidente interino.
“Dentro delas está o tema dos presídios, de onde as gangues praticam extorsão”, disse Jerí, sem detalhar o tipo de intervenção que espera aplicar nas prisões.
“Não vou renunciar”
O descontentamento da população também aponta para a impopular classe política. O Peru passou por sete governos na última década, incluindo o que substituiu Boluarte.
“Não vou renunciar, vou continuar com a responsabilidade”, respondeu Jerí à imprensa ao ser questionado sobre sua permanência no cargo.
O chefe de Estado lamentou novamente a morte do manifestante em Lima, mas insistiu que o protesto foi infiltrado por um pequeno grupo que tentou impor “o caos”.
Quase 200 pessoas ficaram feridas durante os protestos em Lima no último mês, incluindo policiais, manifestantes e jornalistas.
No âmbito dos protestos, a Geração Z exibe a bandeira da série de mangá ‘One Piece’, o novo símbolo de protesto dos jovens contra governos considerados ruins ao redor do mundo.
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