Mundo
Israel ameaça retomar combates se o Hamas não entregar todos os restos mortais de reféns
O grupo palestino afirmou ter recuperado todos os restos mortais de reféns aos quais teve acesso


O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou nesta quarta‑feira 15 à noite que Israel retomará os combates na Faixa de Gaza se o Hamas não respeitar o acordo de cessar‑fogo, ao considerar que o grupo não entregou todos os restos mortais de reféns.
Katz reagia ao anúncio do grupo islamista palestino, que afirmou ter entregue a Israel os cadáveres de reféns aos quais teve acesso na Faixa de Gaza, depois de transferir nesta quarta‑feira os corpos de dois cativos no âmbito do acordo de cessar‑fogo.
O ministro considerou isso uma violação do acordo que estipula a obrigação do Hamas de “entregar todos os reféns mortos que possuam”.
O gabinete do primeiro‑ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta quarta‑feira à noite que os corpos de dois reféns foram entregues pela Cruz Vermelha às forças israelenses na Faixa de Gaza.
“Israel recebeu, através da Cruz Vermelha, dois caixões que contêm os restos de reféns, entregues às forças das FDI e do Shin Bet [serviço de segurança interna] dentro da Faixa de Gaza”, detalhou em comunicado.
O Exército israelense acrescentou que os caixões estavam em território israelense e “estão a caminho do Instituto Nacional de Medicina Forense para sua identificação”, segundo um comunicado militar.
Desde segunda‑feira, sob um acordo de cessar‑fogo mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Hamas entregou a Israel 20 reféns sobreviventes em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos libertados de prisões israelenses.
Antes de os dois corpos terem sido entregues na quarta‑feira à noite, o Hamas já havia devolvido os restos de sete dos 28 reféns falecidos conhecidos, com um oitavo corpo que Israel disse não pertencer a um refém.
Mas nesta quarta‑feira à noite, o braço armado do movimento islamista palestino, as Brigadas Ezedin al Qasam, disse que havia transferido todos os corpos que pôde encontrar e que precisaria de equipamento especializado para recuperar o restante das ruínas de Gaza.
Essa facção do Hamas anunciou em um comunicado nas redes sociais que havia “cumprido seu compromisso ao abrigo do acordo ao entregar todos os prisioneiros israelenses vivos que tinham sob sua custódia, assim como os cadáveres aos quais puderam acessar”.
“No que diz respeito aos cadáveres restantes, são necessários esforços extensivos e equipamento especial para sua recuperação e extração. Estamos fazendo um grande esforço para encerrar este assunto”, acrescentaram.
Israel entregou nesta quarta‑feira outros 45 corpos de palestinos ao Hospital Nasser, no sul de Gaza, com o que o número total de cadáveres devolvidos ascende a 90, informou o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas.
Em Washington, assessores americanos disseram que o Hamas “pretende honrar o acordo” sobre devolução de corpos de reféns.
Desarmamento “talvez violento”
A passagem de Rafah, na fronteira entre Gaza e Egito, permaneceu fechada nesta quarta‑feira apesar de relatos de sua reabertura para permitir a entrada massiva de ajuda humanitária ao território palestino, como estipula o acordo de cessar‑fogo entre Hamas e Israel.
O chefe das operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, expressou sua frustração porque a ajuda humanitária ainda não está chegando ao devastado território palestino apesar do cessar‑fogo.
“Como Israel concordou, devem permitir a chegada massiva de ajuda humanitária — milhares de caminhões por semana — da qual dependem tantas vidas e que o mundo exigiu”, acrescentou Fletcher.
A guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas ao solo israelense em 7 de outubro de 2023, provocou uma catástrofe humanitária no território palestino, que foi sitiado por Israel.
No fim de agosto, as Nações Unidas declarou algumas áreas de Gaza em situação de fome, uma consideração que Israel rejeita.
A retomada da entrada de ajuda humanitária consta no plano de 20 pontos de Donald Trump para o estreito território.
Outro ponto é o desarmamento do Hamas, uma exigência rejeitada pelo grupo islamista, que governa Gaza desde 2007.
O movimento reforça atualmente seu controle sobre as cidades em ruínas do território, com uma campanha de repressão na qual executa supostos colaboradores.
Nas últimas horas também foram registrados confrontos armados entre diversas unidades de segurança do Hamas e outros grupos palestinos armados, alguns dos quais teriam o respaldo de Israel.
A polícia armada do governo do Hamas retomou as operações de patrulha nas ruas no norte do território costeiro.
“Se eles não se desarmarem, nós os desarmaremos”, declarou Trump.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Netanyahu retorna ao tribunal de Israel para nova audiência de julgamento por corrupção
Por AFP
Quem são os palestinos que foram soltos por Israel
Por Deutsche Welle
‘O Brasil não tem problema com Israel, o problema é com Netanyahu’, diz Lula na Itália
Por Vinícius Nunes