Parlatório
Clube militar comemora protestos de 15 de março e fala em “vigilância”
Entidade parabenizou todos os que foram às ruas em 15 de março e diz estar “em onipresente vigilância quanto ao que o governo pretende nos impor”


O Clube Militar, entidade que reúne oficias reformados e tornou-se uma das principais vozes ligadas ao exército brasileiro, divulgou uma nota nesta terça-feira comemorando os protestos deste 15 de março, que pediam a derrubada da presidenta Dilma Rousseff por meio de impeachment ou de golpe militar. O clube, que nas eleições presidenciais declarou voto em Aécio Neves, afirmou que “diferentemente desses nossos vizinhos, [o Brasil] tem Forças Armadas avessas à execução de políticas partidárias e ideologias em seu âmago, dedicando-se, exclusivamente aos interesses nacionais”. E completou: “Havemos de ter, a partir de agora, uma onipresente vigilância quanto ao que o governo pretende nos impor e quanto às medidas a serem implementadas por ele”. Leia a íntegra abaixo:
O DIA EM QUE O BRASIL MUDOU
15 de março de 2015! Um domingo iluminado pelo fervor cívico poucas vezes assistido neste País!
Milhões de brasileiros sentiram a necessidade de sair às ruas num impulso misto de patriotismo e sentimento de indignação com a situação político-econômica a que se veem submetidos. Foram mostrar o repúdio a toda a gama de coisas erradas que o governo tem perpetrado, até mesmo com desfaçatez, ignorando a população e prosseguindo na busca de seu projeto de poder.
E toda essa demonstração de insatisfação serviu para mudar alguma coisa?
Sim, pois, no mínimo, sinaliza aos seguidores do Foro de São Paulo, hoje dirigindo o Brasil, que não podem pensar, impunemente, em nos transformar em uma ditadura similar a da Venezuela, nem mesmo num sofrido Equador ou Bolívia que já trilham o caminho abominável do que chamam de bolivarianismo. Que não se olvide, também, que o Brasil, diferentemente desses nossos vizinhos, tem Forças Armadas avessas à execução de políticas partidárias e ideologias em seu âmago, dedicando-se, exclusivamente aos interesses nacionais.
Simples assim? Obviamente que não. Havemos de ter, a partir de agora, uma onipresente vigilância quanto ao que o governo pretende nos impor e quanto às medidas a serem implementadas por ele, prometendo buscar soluções para os problemas que nos afligem, diga-se de passagem, gerados por ele próprio em sua sanha despótica.
Toda a moral brasileira tem que ser revista e em todos os níveis.
Logicamente, a cúpula governante, a elite da Nação, tem que dar o exemplo e se corrigir. Não basta mais dizer, em discursos recorrentes, que vai combater a corrupção, se, na verdade, está praticando esse câncer social na busca de seus interesses.
O Brasil mudou ontem! Entendam bem: mudou para sempre e para melhor!
Só depende de nós!
Avante brasileiros!
Parabéns, meu povo!
Os manifestantes usam o termo ´intervenção militar’ para pedir a retomada do poder pelo exército (Foto: Tasso Marcelo / Fotos Públicas)
Em São Paulo, dois carros de som eram dedicados exclusivamente para enaltecer o golpe militar (Foto: Robson Fernandjes / Fotos Públicas)
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.