Parlatório
Em busca de um mártir?
Grupo Revoltados on-line marcam ato para mesmo horário e local de manifestação da CUT e torcem abertamente pelo confronto: “Tomara que haja”
A Central Única dos Trabalhadores marcou seu “Dia Nacional de Luta” para esta sexta-feira atos em 26 capitais brasileiras. O mote é a condenação ao ajuste fiscal promovido pelo governo federal (que impacta sobre os trabalhadores) e a “defesa da democracia”. Um dos objetivos é fazer uma resposta antecipada aos atos marcados para domingo, 15 de março, que pedirão a derrubada da presidenta Dilma Rousseff. O chamado da CUT foi respaldado por outras entidades como o Movimento Sem Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Em São Paulo, a concentração será às 15h em frente à sede da Petrobras, na avenida Paulista.
Um dos movimentos que tenta derrubar Dilma, a página de Facebook “Revoltados on-line”, marcou um ato no mesmo local e horário. Seu líder, Marcello Reis, tem repetido na imprensa que irá estacionar um caminhão de som no mesmo ponto onde estará um caminhão de som da CUT. A Polícia Militar tentou um acordo entre as partes, mas nenhum dos dois lados abre mão do ato.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Reis afirmou que “qualquer ato será de vandalismo incitado pelo Lula” –o ex-presidente não convocou o ato nem estará presente. Perguntado pelo jornal se poderia acontecer algum conflito, o “revoltado online’ respondeu: “Tomara que haja”.
Na sexta-feira 6 de março aconteceu uma reunião entre CUT, revoltados on-line e polícia militar. Na ocasião, os “revoltados” teriam se comprometido a ficar em outro ponto da região, atrás da rua Joaquim Eugênio de Lima, enquanto a CUT estivesse na Paulista. Eles só entrariam na avenida quando a CUT saísse em direção à Praça da República. A página do Facebook dos Revoltados on-line, contudo, segue convocando seus seguidores para estarem na avenida Paulista às 15h desta sexta-feira.
Após as afirmações de Marcello Reis na Folha, afirmando claramente que busca o confronto, a CUT e o MST mandaram representantes mais cedo para a avenida. No momento da atualização deste texto, ao meio dia, já havia manifestantes na Paulista.
O capitão Macera, da comunicação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, afirmou à CartaCapital que, na reunião da semana passada, “os dois lados garantiram que vão se manifestar de maneira pacífica. Mas claro que não vamos simplesmente acreditar na palavra deles. Vamos agir em caso de confusão. O efetivo será grande. A PM foi irredutível para que os atos não aconteçam juntos e no mesmo local. Se um grupo optar pelo enfrentamento, vamos agir.”
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