Do Micro Ao Macro
Saúde mental no trabalho avança, mas índices revelam fortes desigualdades entre setores
Estudo mostra que o índice geral de bem-estar nas empresas brasileiras subiu para 8,19, ainda distante da pontuação máxima de 16


A terceira edição do Anuário Saúde Mental nas Empresas 2025, elaborado pelo Instituto Philos Org, mostra avanços pontuais e contrastes significativos entre setores econômicos e grupos empresariais no Brasil. O estudo, divulgado no Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), aponta que o índice geral de preocupação com o bem-estar dos trabalhadores subiu de 5,06 em 2024 para 8,19 em 2025, em uma escala máxima de 16 pontos.
Apesar da melhora, o resultado ainda está longe de indicar um ambiente corporativo equilibrado. O levantamento revela disparidades entre segmentos e empresas, com o setor Financeiro mantendo a liderança e o Agronegócio ocupando a última posição.
Maturidade organizacional e novas legislações
Segundo Carlos Assis, fundador do Instituto Philos Org e editor do Anuário, fatores como o aumento dos afastamentos por transtornos mentais, o avanço de normas voltadas ao bem-estar e o amadurecimento institucional ajudam a explicar o progresso.
“Ao revelar diferenças e boas práticas, o estudo ilumina o tema e inspira outras organizações a adotar estratégias efetivas de cuidado com os trabalhadores”, afirma Assis.
Ele reforça que a escuta ativa e o comprometimento das lideranças são determinantes. “Lidar com saúde mental exige coragem para compreender a subjetividade em um ambiente guiado pela objetividade. É preciso agir a partir dos dados e entender que saúde mental não é custo, e sim investimento.”
Setores em destaque
O setor Financeiro manteve a liderança, com índice de 11,03, embora abaixo dos 11,34 registrados em 2024. O Itaú obteve a melhor nota (15,29), seguido por Banco do Brasil (14,29) e Bradesco (13,33).
O Comércio subiu à vice-liderança, com índice de 8,51 — destaque para Lojas Renner (15,14), RD Saúde (13,90) e Drogarias DPSP (10,38).
Serviços, Transportes e Logística avançaram de 2,96 para 8,00, com o Grupo Dasa (13,24) e a Rede D’Or (10,19) entre as empresas mais bem avaliadas.
Em Energia e Recursos Naturais, o índice passou de 3,44 para 7,97. Enel (12,76), CPFL (11,67) e Petrobras (11,19) lideram o ranking.
Na Indústria, o índice evoluiu de 4,98 para 7,43, com Gerdau (12,90), Volkswagen (12,24) e Renault (11,33) nas primeiras posições.
O setor de Tecnologia, Telecom e Comunicação caiu de 8,81 para 7,12, liderado pela Telefônica Brasil (10,62). Já Alimentos e Bebidas manteve desempenho modesto, com índice de 5,88 — a Ambev lidera o segmento com 13 pontos. O Agronegócio ficou na última posição, com índice geral de 4,02 e a Lar Cooperativa Agroindustrial no topo do setor (9,19).
Marco legal e desafios
O Anuário Saúde Mental nas Empresas foi lançado antes da Lei 14.831/2024, que criou o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental. A metodologia do estudo cobre os critérios previstos na norma, avaliando práticas como psicoterapia, suporte psiquiátrico, programas de psicoeducação e ações de engajamento.
A NR-1, atualizada para incluir riscos psicossociais — como assédio, estresse e sobrecarga —, também integra o contexto regulatório, mas sua entrada em vigor foi adiada para 2026.
Custo global da crise de saúde mental
O Brasil registrou cerca de 500 mil afastamentos por transtornos mentais em 2024, alta de 66% em relação ao ano anterior, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho. O impacto é direto na produtividade e nos custos das empresas.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que depressão e ansiedade causem a perda de 12 bilhões de dias de trabalho por ano no mundo, gerando um prejuízo econômico próximo de US$ 1 trilhão.
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