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Quem é José Jerí, deputado que assume o cargo de presidente do Peru após a destituição de Dina Boluarte
Político tomou posse nesta sexta-feira 10 e deve ficar no cargo até julho de 2026


O presidente do Parlamento peruano, José Jerí, de 38 anos, assumiu nesta sexta-feira 10 a presidência do país andino após a destituição de Dina Boluarte. A queda da política foi aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional.
Jerí exercerá o novo cargo até 26 de julho de 2026 e deve, neste período, organizar eleições gerais. Pela legislação, a votação para eleger o novo presidente do país deve ocorrer em abril do ano que vem.
“Hoje, assumo com humildade a presidência da República, por sucessão constitucional, com o objetivo de formar e liderar um governo de transição”, declarou o novo chefe de Estado, após prestar juramento diante do Parlamento.
“O inimigo principal são as quadrilhas e organizações criminosas. Eles são hoje nossos inimigos e, como tal, devemos declarar guerra a eles”, afirmou Jerí em seu primeiro discurso à nação.
Quem é José Jerí
Formado em Direito, José Jerí era deputado pelo partido de centro-direita Somos Peru desde 2021 e foi eleito presidente do Parlamento em julho deste ano.
Apesar de ocupar o mais alto posto do Parlamento do Peru, o político não fazia parte da formação original do Legislativo eleita nas urnas, ocupando apenas o cargo de suplente. Originalmente, o ex-presidente Martín Vizcarra ficaria com a cadeira após ser o mais votado na eleição. Ele foi, no entanto, impedido pelo Congresso de assumir o posto, abrindo espaço para Jerí.
Antes de se tornar deputado, Jerí tentou ser vereador por Lima, capital do país, em duas ocasiões e saiu derrotado. Neste intervalo, no entanto, ocupou importantes cargos dentro do partido Somos Peru.
Acusação de estupro e enriquecimento ilícito
O novo presidente do país recebeu, no início deste ano, uma acusação de estupro. O caso foi arquivado em agosto deste ano, por falta de provas. Antes, porém, um tribunal havia determinado que ele se submetesse a um tratamento psicológico para tratar de “impulsos sexuais”. Ele, no entanto, nunca cumpriu a ordem judicial e é investigado por desobediência em um outro processo, ainda em andamento.
Outra polêmica que ronda Jerí é a denúncia de um suposto enriquecimento ilícito. O político, de acordo com os sites peruanos de notícias Infobae e Perú21, teria tido um crescimento de seu patrimônio incompatível com sua renda entre 2021 e 2024. O caso está em apuração.
O novo presidente do Peru, por fim, ainda enfrenta uma acusação de suborno. Enquanto ocupava a presidência da Comissão de Orçamento no Parlamento, ele teria, de acordo com revelações da imprensa local, solicitado 150 mil soles (235 mil reais) de uma empresária para incluir um projeto no orçamento do país. Gravações e outras mensagens pesam contra Jerí no caso.
Desde as revelações, ele nega as acusações e informa estar cooperando com autoridades nas investigações.
A queda de Dina Boluarte
As principais forças políticas do Parlamento apresentaram na quinta-feira 9 várias moções de destituição contra Dina Boluarte, 63 anos, alegando “incapacidade moral permanente” para exercer o cargo.
A destituição foi aprovada após uma sessão à qual Boluarte não compareceu, apesar de ter sido convocada. Com isso, ela perdeu a imunidade e fica exposta a possíveis processos judiciais que podem levá-la à prisão.
Em um discurso transmitido pela TV Peru a partir do palácio presidencial, ela defendeu sua gestão. “Durante todo esse tempo, não pensei em mim, mas nos mais de 34 milhões de peruanos e peruanas”, declarou.
Dina Boluarte já havia enfrentado várias tentativas de destituição, todas sem sucesso até agora. Desta vez, a medida foi aprovada após partidos de direita e extrema-direita que a apoiavam retirarem o apoio.
O Peru vive o período mais instável de sua história política recente, com sete presidentes em menos de nove anos: três destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte, dois que renunciaram antes de enfrentar o mesmo destino, um que completou seu mandato interino e agora Jerí.
Atualmente, os ex-presidentes Alejandro Toledo e Ollanta Humala estão presos por corrupção em uma penitenciária especial no leste de Lima. Pedro Castillo também está detido, aguardando julgamento por tentativa de golpe contra o Parlamento.
Escândalos e investigações
Boluarte chegou ao poder após a destituição do presidente Pedro Castillo, em meio à repressão de manifestações que deixaram ao menos 50 mortos. Seu mandato foi marcado por índices recordes de impopularidade.
Ela também foi envolvida em diversos escândalos, como o “Rolexgate”, sobre relógios e joias de luxo não declarados, e uma rinoplastia realizada secretamente em julho de 2023, quando a lei exigia que o Parlamento fosse informado.
Nas últimas semanas, os protestos contra o governo se intensificaram em Lima, em meio a uma onda de extorsões e assassinatos atribuídos ao crime organizado.
Ataque a grupo musical
A nova crise política ocorre após um grupo musical ter sido alvo de tiros na noite de quarta-feira 8 em Lima, deixando cinco feridos, quatro deles músicos.
As autoridades ainda não determinaram se o ataque está ligado à onda de extorsões que afeta principalmente a capital, com 10 milhões de habitantes.
O presidente da Associação de Artistas e Empresários do Peru, Walter Dolorier, afirmou que os músicos haviam recebido “ameaças” de grupos criminosos.
“Os peruanos vivem em constante medo”, denunciou na noite de quinta-feira a deputada Norma Yarrow, do partido de direita Renovación Popular.
(com informações de RFI e agências)
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