Economia

As digitais do Centrão e da direita na derrota do governo na votação da MP do IOF no Congresso

Kassab e Tarcísio entraram em cena para ajudar o PP e o União Brasil na manobra contra Lula

As digitais do Centrão e da direita na derrota do governo na votação da MP do IOF no Congresso
As digitais do Centrão e da direita na derrota do governo na votação da MP do IOF no Congresso
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A derrota do governo Lula (PT) na Medida Provisória 1303, que tratava da tributação do IOF e de novas fontes de arrecadação, teve endereço certo e múltiplos autores. Sob o pretexto de evitar aumento de impostos, partidos do Centrão – liderados por PP, União Brasil e PSD – se uniram para deixar a MP caducar, em um gesto calculado de revanche contra o Palácio do Planalto. 

O movimento, costurado nos bastidores por Gilberto Kassab (PSD) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi lido no governo como uma ofensiva para enfraquecer o presidente Lula às vésperas da corrida eleitoral de 2026.

A medida provisória previa uma arrecadação extra de até 35 bilhões de reais por meio da taxação de operações financeiras, bets e aplicações isentas como LCI e LCA. O dinheiro ajudaria a equilibrar o Orçamento e abriria espaço para programas sociais. O texto, no entanto, acabou rejeitado por 251 votos a 193, após uma ofensiva articulada de líderes do Centrão que decidiram transformar a pauta econômica em um teste de força.

PP e União Brasil foram os principais articuladores da retirada de pauta, com apoio do Republicanos e parte expressiva do PSD. No Progressistas, 40 deputados votaram pela retirada da MP; no União Brasil, 46; no Republicanos, 29; e no PSD, 18 – votos suficientes para inviabilizar a votação.

O papel de Kassab e Tarcísio

Nos bastidores, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, fez uma série de ligações a deputados de sua legenda pedindo votos contrários à MP. Segundo relatos de congressistas, Kassab agiu em sintonia com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que incentivou congressistas a não “dar fôlego fiscal” a Lula. O Planalto vê na dupla uma espécie de dobradinha: Kassab, de olho na manutenção da sua influência no Congresso; e Tarcísio, com pretensões eleitorais para 2026.

O recado do Centrão

A decisão de derrubar a MP também teve tom de revide. Após a derrota na PEC da Blindagem, líderes do PP, União Brasil e Republicanos aguardaram o momento certo para devolver o golpe.

Entre os articuladores do movimento, a leitura era de que o Planalto havia se distanciado das siglas do centro e apostado em um discurso de autossuficiência, embalado pela recuperação da popularidade de Lula. Pesquisa Quaest divulgada na véspera da votação mostrou empate técnico entre aprovação e desaprovação do presidente (48% e 49%, respectivamente).

Ministros rebeldes

A votação também foi interpretada como recado dos partidos que romperam com o governo, mas ainda mantêm ministros em seus quadros. O União Brasil afastou o ministro do Turismo, Celso Sabino, e abriu processo de expulsão após ele decidir permanecer no cargo. O PP tomou medida semelhante contra André Fufuca, ministro do Esporte, que também optou por continuar na Esplanada.

Ambos desafiaram a orientação das siglas, que formalizaram o rompimento com o Planalto e anunciaram federação para a disputa de 2026. A posição de PP e União na votação da MP, segundo integrantes do Congresso, foi uma forma de reforçar a ruptura e mostrar independência em relação ao Executivo.

Após a derrota, Lula afirmou que quem perdeu não foi o governo, mas o País, e acusou os deputados de defenderem os mais ricos ao impedir a arrecadação extra prevista pela MP. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sustentou que o Centrão atuou para proteger o mercado financeiro.

E 2026?

Para o Planalto, a derrubada da MP do IOF simboliza o início de um novo ciclo de tensão com o Congresso Nacional. A união de partidos de centro e centro-direita evidencia o esforço para limitar a margem de manobra do governo em um contexto de disputa crescente.

O movimento do Centrão indica que toda medida que implique aumento de receita enfrentará resistência. No curto prazo, o governo Lula buscará alternativas legais para compensar a perda de arrecadação. No longo, a derrota deixa uma mensagem de que as principais forças do Centrão pretendem manter o presidente sob pressão até o encontro com as urnas em 2026.

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