Cultura
Uma animação sem corre-corre
O filme japonês Totto-chan: A Menina na Janela, protagonizado por uma criança hiperativa e passado durante a segunda guerra mundial, leva ao encantamento


Dos cinco longas-metragens mais vistos nas salas de cinema do Brasil em 2024, três eram animações de grandes estúdios de Hollywood: Divertida Mente 2 (Disney), Moana 2 (Disney) e Meu Malvado Favorito 4 (Warner). Este ano, o líder no ranking das bilheterias é outra animação, Lilo & Stitch (Disney).
Nem que fosse pela simples possibilidade de oferecer uma estética e um espírito diversos ao público infantil, a estreia da animação japonesa Totto-chan: A Menina na Janela já mereceria ser celebrada. Mas o filme, em cartaz nos cinemas brasileiros desde a quinta-feira 9, oferece muito mais.
Vencedora do Prêmio Paul Grimault no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy – o principal do gênero no mundo –, esta produção do estúdio Shin-Ei Animation, dirigida por Shinnosuke Yakuwa, tem como protagonista uma criança hiperativa.
Totto-chan, a personagem-título, é inspirada em uma mulher real, ex-executiva da NHK, a televisão pública japonesa. No início dos anos 1980, ela recontou sua infância, passada em Tóquio durante a Segunda Guerra Mundial, em uma autobiografia.
Quando a trama começa, a menina, desenhada com o traço típico da animação japonesa, é forçada a mudar de escola por não conseguir manter-se sentada. Ela, embora muito alegre e faladora, leva certo caos ao ambiente e é vista como “problemática” pela professora.
Sua jornada, como heroína, é construída a partir da chegada a uma nova escola, mais livre e empática. Ali, algumas aulas são dadas em um vagão de trem reaproveitado, e a diferença não leva à exclusão. Um de seus novos colegas – que se tornará seu melhor amigo – é, por exemplo, um menino que tem poliomielite.
A relação entre os dois é um ponto central do roteiro, que se equilibra de forma sutil entre o mundo da imaginação infantil, cheio de alegrias e aventuras, e o mundo concreto, marcado pela guerra e pelas perdas.
Sem as cenas aceleradas que costumam marcar as animações blockbuster e bastante realista , Totto-chan: A Menina na Janela é uma experiência estética diferente, mas em nada exigente.
Trata-se, ao contrário, de uma narrativa muito simples, contada a partir de imagens que remetem a pinturas em aquarela e buscam despertar o encantamento. •
Publicado na edição n° 1383 de CartaCapital, em 15 de outubro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Uma animação sem corre-corre’
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