Opinião

A bolha de calor, o metanol e a mafiada

São Paulo, sob o neoliberalismo, parece querer atingir o pódio da desgraça

A bolha de calor, o metanol e a mafiada
A bolha de calor, o metanol e a mafiada
O governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP
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“A verdade é que uma criança com sete, oito anos de idade já começa a ser treinada para ignorar o meio ambiente. É isolada em uma sala de aula para ser alfabetizada e vai sendo incutida nela, desde cedo, a ideia de uma vida sanitária.”
— Ailton Krenak

Neste momento, o Brasil está sob uma bolha de calor que inevitavelmente levará ao racionamento de água.

A empresa paulista de abastecimento, a Sabesp, privatizada pelo atual desgovernador bolsonarista de São Paulo, anunciou que possivelmente servirá à população e aos visitantes água de esgoto ‘tratada’, segundo suas próprias palavras.

O interior do estado passa por um processo evidente de desertificação, resultado da monocultura predatória, que desmatou e reduziu as matas ciliares a um mínimo incapaz de garantir evaporação suficiente para a formação de chuvas.

O mesmo caminho foi trilhado pelo Centro-Oeste — Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Pior: é nessa região que nascem as três principais bacias hidrográficas do país, o que traz risco de desabastecimento ainda mais amplo.

Entretanto, São Paulo, sob o neoliberalismo, parece querer atingir o pódio da desgraça.

Para completar, o desgoverno paulista, leniente com as fraudes, perdeu o controle sobre o crime organizado, que contaminou com metanol em bebidas alcoólicas. O controle sobre a qualidade dessas bebidas foi desativado ainda sob o governo do golpista Michel Temer, ex-presidente ilegítimo e ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo — o que facilitou aquela prática criminosa.

Portanto, quem for a São Paulo, é aconselhável levar a própria bebida.

No âmbito internacional, segue o genocídio em Gaza, promovido pelo Estado terrorista de Israel. O chamado “plano de paz” de Trump é, na verdade, um ultimato, sem qualquer negociação com a população massacrada e sem cessar-fogo prévio.

O silêncio e a inação dos países ocidentais devem-se, em grande parte, ao fato de Israel ser a caixa-forte dos sistemas de informação mundiais, depositário de dados estratégicos desses países, inclusive militares.

O país judeu desenvolveu essa habilidade ao longo dos anos, combinando pesquisa universitária, estratégia governamental e aliança com os serviços de informação locais. Assim, detém conhecimento sensível sobre as potências ocidentais, inclusive no campo militar.

Cabe imaginar, portanto, o que Israel não conhecerá sobre o governo dos Estados Unidos da América (EUA), seu principal esteio político, financeiro e militar.

De volta a Pindorama e ao estado de São Paulo, o desgovernador paulista anunciou que pretende implementar mais 37 pedágios free-flow (livre fluxo) no estado.

O próprio termo já revela a hipocrisia do desgoverno: não se trata de livre fluxo, muito pelo contrário. O usuário que deixar de baixar o aplicativo do pedágio e pagá-lo eletronicamente será multado por infração grave, devendo desembolsar vinte vezes mais para quitar a autuação.

Uma verdadeira mafiada, que enche as burras das empresas — prestadoras de serviços precários — e do próprio Estado, que não economiza em publicidade e vantagens fiscais bilionárias para a oligarquia local que sustenta o cinismo dos que se dizem “a favor da liberdade de locomoção”.

Vale notar que o desgovernador do Rio Grande do Sul já seguira a mesma trilha, mostrando que cinismo e hipocrisia não são exclusividades paulistas.

Em Caviar é uma ova (Companhia das Letras), Gregorio Duvivier reflete:

“Deleuze diz que o que diferencia a direita da esquerda é a forma como cada uma pensa o endereço postal.
A direita diz: Gilles Deleuze. 12, Rue de Bizerte. Paris. França. Mundo.
A esquerda diz: Mundo. França. Paris. Rue de Bizerte. 12. Gilles Deleuze.
Ser de esquerda é perceber que os problemas do mundo vêm antes dos meus problemas pessoais.”

Em Por uma revolução africana (Zahar), o psiquiatra Frantz Fanon cita o também martinicano Aimé Césaire:

“O que ele (o burguês humanista do século XX) não perdoa em Hitler não é o crime em si — o crime contra o homem branco —, mas ter aplicado na Europa os procedimentos colonialistas até então reservados aos árabes da Argélia, aos coolies da Índia e aos negros da África.”

Que a primavera nos brinde com chuvas abundantes e socialistas. Que receba mais quem mais precisa.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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