Política
Sabino desafia União Brasil, mantém apoio a Lula e expõe divisão entre a cúpula e a base do partido
Dos 59 deputados da sigla, 46 assinaram uma carta em defesa da permanência do ministro no cargo; André Fufuca, pressionado por Ciro Nogueira, tenta repetir o roteiro


Apesar da pressão intensa da cúpula do União Brasil e do processo disciplinar que pode levar à sua expulsão, o ministro do Turismo, Celso Sabino, decidiu permanecer no governo do presidente Lula (PT). O gesto, além de consolidar sua aproximação com o Planalto, escancarou uma divisão dentro do partido, entre dirigentes que buscam romper com o governo e uma base no Congresso Nacional cada vez mais disposta a permanecer ao lado do petista.
Na prática, Sabino foi salvo por sua própria bancada. Dos 59 deputados do União Brasil na Câmara, 46 assinaram uma carta em defesa da permanência do ministro no cargo. O movimento, antecipado pelo jornal O Estado de S.Paulo, teve um motivo imediato – a manutenção do acesso político ao Ministério do Turismo –, mas também revelou um cálculo eleitoral mais amplo: grande parte dos deputados vê em Lula um cabo eleitoral mais viável para 2026 do que seus próprios dirigentes partidários.
Entre os principais líderes da federação União Progressista, o clima é de distanciamento do governo. Ciro Nogueira (PP), ACM Neto (União) e Antônio de Rueda, presidente nacional do União Brasil, articulam a construção de uma alternativa de direita para disputar a Presidência da República em 2026. O nome ainda é incerto, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União) e Ratinho Júnior (PSD) são cogitados, mas o projeto é claro: romper com Lula e consolidar um bloco oposicionista.
Na base, porém, a leitura é diferente. Deputados do União avaliam que, sem um candidato definido e sem unidade, o grupo pode sair enfraquecido nas próximas eleições. O presidente Lula, por outro lado, segue acumulando vitórias no Congresso e colhe frutos do bom momento de articulação política, fatores que o tornam, aos olhos do chamado “baixo clero” da Câmara, um aliado eleitoral mais seguro.
Um deputado da sigla resumiu o dilema: “A direção nacional quer fazer oposição, mas a gente quer sobreviver em 2026. Lula tem força no Norte e Nordeste, e Sabino é do Pará. Estar com ele é um investimento político”, disse um congressista sob reserva.
Com o apoio da maioria da bancada e a simpatia do Planalto, Sabino decidiu ignorar o ultimato do União Brasil e ficar no ministério, mesmo após ter entregue uma carta de demissão ao presidente. A atitude provocou a reação imediata da legenda, que abriu um processo disciplinar interno sob a relatoria do deputado Fábio Schiochet (União-SC). O ministro tem até esta segunda-feira 6 para apresentar sua defesa.
A tendência é que o relator recomende sua expulsão, mas, mesmo que isso ocorra, Sabino não perderá o mandato de deputado federal, conforme a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.
Sabino, que pretende disputar o Senado pelo Pará em 2026, tem dito a aliados que Lula será seu principal apoiador na campanha.
A leitura dentro do governo é que Lula prefere manter Sabino no cargo. O presidente tem evitado comentar o assunto publicamente para não estimular disputas por ministérios dentro do PT e de outros partidos da base. O Planalto vê vantagem em preservar ministros do Centrão que garantam diálogo com as bancadas no Congresso, mesmo que enfrentem resistência nas suas siglas.
Fufuca repete o roteiro
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), vive situação semelhante. Pressionado por Ciro Nogueira, presidente do PP, a deixar o governo até terça-feira 7, Fufuca tem resistido à ordem e mantido sua rotina à frente da pasta. Assim como Sabino, o maranhense acompanha Lula em eventos no Nordeste e atua como aliado estratégico nas votações no Congresso. Nesta segunda-feira 6, por exemplo, participa da entrega de 2.837 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida, em Imperatriz (MA).
O ministro do Esporte, André Fufuca. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Ciro chegou a ameaçar retirar o comando estadual do PP das mãos de Fufuca caso ele não se desligasse do ministério, mas afirmou que não pretende expulsá-lo – ao menos por enquanto.
Fufuca também mira o Senado em 2026 e avalia que a associação com Lula pode fortalecê-lo politicamente em seu estado, onde o petista mantém ampla aprovação. No Planalto, auxiliares de Lula defendem que o presidente preserve o ministro, mesmo que isso amplie o desconforto com o PP.
No fim das contas, tanto Sabino quanto Fufuca parecem apostar na mesma lógica: em 2026, estar com Lula pode valer mais do que estar com o partido.
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