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Congresso argentino revoga vetos de Milei a fundos para universidades e pediatria
O presidente havia justificado seus bloqueios a esses fundos argumentando que ‘não há dinheiro’ para mantê-los


O Senado argentino reverteu, nesta quinta-feira 2, dois vetos de Javier Milei e manteve as leis que ampliam fundos para universidades e hospitais pediátricos, um golpe na política de austeridade do presidente ultraliberal em meio a uma alta volatilidade financeira.
O revés parlamentar ocorre em uma semana difícil para Milei, que busca acalmar uma crise cambial antes das eleições legislativas de 26 de outubro, nas quais ele precisa demonstrar aos mercados que terá governabilidade para sustentar suas reformas.
Os senadores decidiram, com 59 votos a favor, sete contra e três abstenções, invalidar o veto à emergência pediátrica. O mesmo aconteceu com o bloqueio presidencial aos fundos para universidades públicas, com 58 votos a favor, sete contra e quatro abstenções.
Em frente ao Congresso, onde uma centena de pessoas aguardava os votos, o estudante de psicologia Tomás Bossi disse sentir-se “orgulhoso” com o resultado.
“Estamos há mais de um ano em um processo de luta e resistência contra o desfinanciamento atroz que o governo está impondo às universidades nacionais”, declarou à a.
Milei conseguiu reduzir a inflação de 211% em 2023 – quando assumiu – para 118% em 2024, e este ano até agosto está em quase 20%, graças a um draconiano ajuste fiscal. No entanto, os cortes são sentidos pelo setor público, em particular por hospitais e universidades.
O presidente havia justificado seus bloqueios a esses fundos argumentando que “não há dinheiro” para mantê-los.
“Milei nunca fala de saúde nem de educação, jamais. Ele fala sobre o risco país, sobre o risco monetário”, criticou no plenário o opositor Martín Lousteau, enquanto o senador peronista Daniel Bensusán afirmou que o debate “não é técnico, fiscal ou contábil: é político e moral”.
As leis que Milei tentou bloquear prevêem atualizar o orçamento universitário de acordo com a inflação desde 2023 e melhorar os salários de professores e pessoal auxiliar.
Também declaram uma emergência na pediatria, o que implica em destinar fundos para o hospital Garrahan, o principal centro pediátrico de alta complexidade da Argentina e uma referência regional.
“Tenho muita esperança de que algo mude”, disse diante do Congresso Alejandra Maldonado, de 50 anos, enfermeira neonatal do Garrahan.
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