Educação
O que se sabe sobre o atentado a tiros em uma escola de Sobral, no Ceará
Dois estudantes morreram, e três ficaram feridos; a Secretaria de Segurança Pública aponta uma provável execução vinculada ao tráfico de drogas


A Polícia prendeu, nesta sexta-feira 26, um suspeito de envolvimento no ataque a tiros contra uma escola em Sobral, no Ceará, na manhã da última quinta-feira 25. Ainda não está claro se o detido é um dos dois homens que atiraram contra a escola que, até então, estavam foragidos.
Também foram conduzidas à delegacia para depor a companheira e a irmã do suspeito preso. As investigações seguem em andamento.
Dois estudantes morreram no episódio e outros três ficaram feridos. Os adolescentes mortos são Victor Guilherme Sousa de Aguiar, de 16 anos; e Luis Claudio Sousa Oliveira Filho, de 17 anos. Em relação aos feridos, dois já receberam alta hospitalar e um terceiro segue internado na Santa Casa der Sobral. O caso aconteceu na escola de Ensino Médio Luiz Felipe.
A Secretaria de Segurança Pública do Ceará sustenta a tese de que o crime foi uma execução e estaria relacionado ao tráfico de drogas. “Foi um ataque contra esses jovens que estavam naquele local. E repudiamos, lamentamos profundamente o fato da droga, nesse contexto com arma de fogo, com impunidade, gerar toda esse espiral de violência que o Brasil vive”, declarou o secretário Roberto Sá, nesta sexta, em uma coletiva de imprensa.
Segundo a pasta, foram encontrados drogas, embalagens e uma balança de precisão com uma das vítimas do ataque. A motivação exata do crime, no entanto, ainda é desconhecida.
O governador do estado, Elmano de Freitas (PT) instituiu um gabinete extraordinário da Segurança Pública em Sobral até a situação se normalizar no município, que deve receber também um reforço no policiamento. As aulas na escola estão suspensas e devem retornar apenas na segunda-feira 29.
ONG diz ter alertado o governo
A organização não governamental Visão Mundial Brasil disse, nesta sexta, que havia alertado a Secretaria Estadual de Educação do Ceará sobre o risco iminente de um atentado contra a escola. A ONG fez o alerta com base no acompanhamento de um adolescente, que não estava frequentando as aulas, em razão de ameaças feitas por grupos armados. O jovem citado pela ONG no alerta não foi vítima do ataque armado.
No dia 4 de agosto, a Visão Mundial encaminhou um ofício à pasta solicitando a transferência do estudante para outra escola. Segundo o documento, o jovem reside em uma área dominada por um grupo armado rival ao que atua na região da escola e o deslocamento representaria riscos à sua integridade física e à vida. O adolescente, segundo a ONG, não frequentou as aulas no primeiro semestre deste ano, devido ao cenário, “acumulando faltas e ameaçando não apenas seu processo de aprendizagem, mas também a permanência no programa Pé-de-Meia, do qual é beneficiário”.
“Solicitamos, com a máxima urgência e atenção que o caso requer, o apoio dessa secretaria para que seja possibilitada a transferência imediata do estudante para a unidade indicada, ou outra que ofereça as mesmas condições de segurança e continuidade do processo educacional”, registrou a organização, no documento.
A organização, em contato com CartaCapital, afirmou que a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 5 sugeriu, em resposta ao ofício, que o estudante fosse para o turno da noite na mesma escola. A solução, no entanto, seria inviável pela idade e também por questões de segurança. De acordo com a ONG, a transferência sugerida não teria sido tirada do papel porque o estudante não obteve nota suficiente para ser matriculado na escola do próprio bairro, que opera no sistema profissionalizante e exige a avaliação antes de aceitar ou não novos estudantes.
Em nota, a Secretaria de Educação do Ceará sustenta que o alerta feito pela ONG não teria relação direta com o tiroteio de quinta-feira. “São situações diferentes”, diz o comunicado. No texto, a pasta reforça que o jovem mencionado no ofício não foi uma das vítimas e que o caso está sendo tratado de maneira separada, “seguindo os trâmites necessários”. A secretaria finaliza a nota dizendo ter “a proteção e o bem-estar” dos estudantes como “prioridade”.
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